Quando olhamos para o horizonte crepuscular, sinalizando o arrebol envolto por mistérios impenetráveis, não sabemos o que ainda está por vir enquanto transitamos pela estrada da vida, mas podemos sentir com os olhos de nosso espírito, quando desperto, que há uma continuidade espaço-temporal que está para além de nossa razão e de nossas faculdades sensoriais, infinitamente mais vasta e grandiosa do que podemos abarcar com a mais perspicaz das filosofias e com todas as fórmulas científicas existentes.

Estar aberto à imensidão do amor de Deus pelas vias da fantasia e da contemplação, onde podemos nos comprazer com a beleza de sua criação e com a profundidade de sua santidade, é permitir que as portas dos céus se abram para as nossas vidas, de modo que passamos a nutrir esperanças de que depois de nossa morte conheceremos o inefável, bem como tudo aquilo que se mantinha tão inacessível para os nossos sentidos!

Estar aberto, sobretudo, à verdade da palavra gloriosa de Deus pelas vias de uma confiança capaz de remover montanhas e de uma indomável e sincera devoção, é dar espaço para o sentimento do vasto e do infinito alumiar nossas almas, sabendo que ainda há algo de mais sublime que se mantém na esfera do inacessível, no qual um dia será descortinado para todos aqueles que buscam o santo Altíssimo em espírito e em verdade. Estar aberto ao amor de Deus significa, portanto, dar abertura para o espirito santo habitar em nosso coração; ou dito de outra maneira, permitir que o mesmo produza seus frutos na totalidade de nosso ser.

E enquanto formos libertos de todas as distrações e do cárcere que a técnica moderna impõe com mãos de ferro sobre o homem contemporâneo, ficando cada vez mais vigilantes para os grandes sinais que se comunicam em nossos corações, mais estaremos próximos de sentir e intuir que há uma força milagrosa que move o cosmos, uma força inescrutável que nos revigora diariamente, sem que a racionalidade científica consiga penetrar e domar o que permanece sendo insondável para os soberbos.

Porém não só é acessível para os humildes e simples de alma, cujo temor de Deus supera qualquer limitação imposta pela condição humana, como funda neles o que há de mais sublime para o homem viver em liberdade. É com essa compreensão da vida que podemos dizer que todo conhecimento disseminado pela ciência é ínfimo diante daquele que temos quando decidimos nos orientar como servos fieis debaixo do resplendor da onisciência do nosso Rei Eterno.

Certamente, o amor de Deus está acessível para aqueles cujo coração não está petrificado com as sutilezas mentirosas de nosso tempo; pelo contrário, está próximo sempre daqueles que são dotados de grande sensibilidade para compreender no mais abissal de suas almas os desígnios profundamente elevados do Rei da eternidade. Dessa maneira, tais pessoas além de encontrarem abrigo nos esconderijos mais seguros do altíssimo, como já dizia o Salmista num dos seus versículos mais memoráveis, permitem que os cânticos gloriosos da verdade proclamada façam grande companhia durante uma jornada espiritual que se estende até mesmo pelos desertos mais áridos da vida.

Num dos versículos mais inesquecíveis e emblemáticos do antigo testamento, está escrito essas belas palavras "Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos e os meus pensamentos mais altos do que os seus pensamentos''(Isaías 55: 9).Tal versículo, mostra a profunda intimidade entre o Criador e um profeta impulsionado pela sinceridade de coração.

Ao entoar belos cânticos e clamores, o profeta consegue desvelar (sob o auxílio da permissão divina) os atributos da grandeza do mestre e os propósitos magníficos que está para aqueles que o amam; sem dúvidas, tal linguagem expressada com tamanho temor e tremor aparece graças à luz de um discernimento arrebatador capaz de inspirar gerações e gerações de homens piedosos em busca de verdade e redenção..

Portanto, só vivendo de humildade, de gratidão e da graça emanada dos céus, é que podemos ganhar profundo discernimento para nos desviarmos do caminho de trevas e de enganação, nos aproximando do que verdadeiramente interessa a um homem dotado de riqueza espiritual: da fonte de onde todo amor se torna possível. Saindo, pois, do labirinto da confusão e do caos dessa babilônia moderna e vivendo sob o auxílio de uma verdade que sempre há de nos libertar (de uma verdade onde possamos viver e morrer, como dizia o pensador Soren Kierkegaard na sua ênfase pela experiência religiosa), é que podemos encontrar o estreito caminho que irá nos abençoar com toda sorte de virtude espiritual e que certamente nos conduzirá para o destino supremo e derradeiro da vida eterna!