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Poesias, ensaios e reflexões de Alessandro
O segredo da existência humana reside não só em viver, mas também em saber para que se vive. F. D.
Textos
IIMANÊNCIA E TRANSCENDÊNCIA: UMA REFLEXÃO SOBRE RAZÃO E FÉ
Vivemos, enquanto buscamos um contato mais íntimo e verdadeiro com Deus, uma luta sem trégua: oscilamos entre o sentimento etéreo da fé e a nossa razão com os seus lampejos de clareza a qualquer preço...

Mas e a luz que a fé lança sobre nossa existência: não seria a mais iluminadora quando decidimos tê-la em nosso coração quando resvalamos abruptamente nos abismos de nossa própria fragilidade?

Não seria também a fé no Divino uma semente de liberdade recém-germinada nos solos de nossa existência quando a nossa racionalidade mostra aqueles sinais de cansaço ao se contemplar incapaz e inflexivelmente prepotente?

De maneira genial, Kierkegaard já dizia que a fé não é um conhecimento, mas sim um ato de liberdade, uma expressão da vontade. A fé no criador de todas as coisas, no Pai da Eternidade, juntamente com o amor, é o que temos de mais precioso em nosso ser; sem ela, não saberíamos como conceber a possibilidade da verdadeira redenção para nossas almas, pois pela fé, como já dizia Paulo, somos libertos e salvos em Cristo justamente porque entregamos nosso destino em suas mãos milagrosas.

Quando passamos a confiar nossas vidas (e nosso destino) no redentor da humanidade, aprendemos, ainda que com todos os paradoxos possíveis, a viver uma existência fortalecida pela coragem, caminhando pela estrada da vida sem qualquer temor que possa nos fazer perder a esperança. Mantemos uma profunda alegria enquanto sonhamos com as magníficas promessas e vivemos livres e seguros para nos aventurarmos por um caminho tão sublime!

Quanto a razão humana, ela só alcança o que é demonstrável com provas empiricamente plausíveis e coerentes, o que não deixa de ser compreensível no tempo em que vivemos, um tempo estritamente pragmático e mecanizado (um tempo governado pela ciência orgulhosa de suas ricas conquistas). Desde o alvorecer da era moderna, a racionalidade científica, que não deixa de ser a grande auxiliar para nossa vida prática, é o que tem movido a nossa sociedade industrial massificada.

Em contrapartida, é a fé no Divino aquela que nos ilumina quando já não temos mais esperança de enxergarmos no escuro desse abismo que submergimos, sendo o preço que pagamos por acharmos ilusoriamente que poderíamos viver com independência absoluta e autossuficiência, a fim de resolver todos os problemas que surgem em nossas vidas...

A partir do momento em que nos aprofundamos nos mistérios da fé, começamos a sentir uma chama que não vemos habitualmente, mas que é capaz de clarear nossas vidas nos momentos de extremo esfacelamento existencial; a razão, por outro lado, começa, através de seus cálculos precisos, a acusar a nossa confiança em Deus como uma atitude absurda, infantil e sem qualquer coerência.

É o que basta para entrarmos em conflitos sem precedentes; um conflito sem trégua quando ainda nos apegamos ao poder da racionalidade e a procuramos igualá-la ao ímpeto da fé depositado no amor de Cristo.

A fé é, sem dúvida, um poder miraculoso e emancipador, pois a partir do momento em que depositamos nossa mais plena confiança numa força maior, uma confiança aparentemente absurda para os incrédulos, é que somos, no momento certo, salvos quando nada e nem ninguém mais vem ao nosso encontro para nos proporcionar paz.

A paixão da fé é o que temos de mais precioso em nossas vidas; passamos -quando percorremos esse caminho tão enigmático- a dar extremo valor em situações que desafiam a nossa limitada racionalidade. Os acontecimentos que inesperadamente ecoam em nossas vidas, passam a ter um encanto diferente, pois começamos a ver neles algo mais do que uma mera causalidade perfeitamente explicável; vemos neles, antes de mais nada, milagres passíveis de serem testemunhados por aqueles que tem credulidade na existência de tudo o que é sobrenatural (principalmente no que diz respeito aos mistérios do Criador supremo de todas as coisas).

Tais crenças tem sempre sua dinâmica peculiar: são, de fato, explicáveis através da sinceridade de um coração transbordante de amor, fé e lágrimas. Na maior parte das vezes, uma crença sincera e apaixonada está imbuída pela doçura e pela alegria de uma paz manifestada no íntimo, especialmente quando é possível sentirmos que o amor do PAI veio ao nosso encontro e, também, de todos seus mais fervorosos fiéis. Os instantes de devoção e reverência, são únicos e encantadores e, por serem assim, participam da eternidade (ainda que ocorra numa pequena fração de tempo a evidência de uma uma experiência arrebatadora).

A razão, um instrumento a serviço do cálculo, da mensuração e da previsão, é um bem capaz de fornecer subsídios para o desenvolvimento da técnica e de propiciar encanto e sedução aos olhos das pessoas. É, portanto, uma faculdade a serviço da imanência, ou seja, participa do que é finito e temporal. Já a fé em Deus, única forma de ultrapassarmos a margem de nossas limitações, é uma dádiva maior em que muitas formas de ser-no-mundo são possíveis; o amor, a compaixão e a caridade, por exemplo, só tem uma participação no eterno se forem banhadas pela vivência oceânica da fé, que não deixa de ser uma virtude cujo mistério está a serviço da transcendência...Com a fé em nossos corações, definitivamente, conseguimos nos religar a divindade e, portanto, com tudo o que há de mais sagrado e divino!

Na vida passamos a dar valor em certas coisas quando surgem acontecimentos inesperados, acontecimentos de grande e significativa repercussão para a reconstituição de nosso ser. Tais transformações operadas em nosso íntimo acontece no momento onde quase havíamos esquecido da sublimidade do amor de Deus pelo homem; a partir daí, passamos a sentir um novo encanto, exclusivamente quando nos aproximamos de certas pessoas, pessoas que nos faz sentirmos melhores e mais convalescentes, ainda que o contato e a proximidade durem pouco tempo.

São através dos instantes vividos à luz do evangelho (partilhado entre duas ou mais pessoas), que somos motivados a viver bons momentos e extrairmos experiências sobremaneira intensas; daí surge a necessidade de poder sempre revivê-las...É o suficiente para continuarmos convictos de que estamos realmente vivos e que não somos apenas meros sobreviventes tentando subsistir no anonimato. Somos, por conta disso, provocados a refletir e a rever os nossos valores ou ideias sob o risco de sucumbirmos a um ceticismo desolador, um ceticismo que não admite nada que ultrapasse os estritos limites do materialismo.

De agora em diante, começamos, se dermos suficiente abertura para a presença do incognoscível agir sobre as nossas vidas, a encarar a nossa existência por um outro ângulo e perspectiva, dessa vez mais sob o aconchego de uma fé profunda em Deus, em vez de pairarmos no vácuo do niilismo absoluto como outrora, ou seja, completamente ao sabor do acaso e existindo à deriva, desconsolados e perdidos.

Deus, para falar com franqueza, prepara pessoas honestas e com riqueza espiritual, a fim de continuarmos acreditando que ele nunca nos abandona em situações de aparente desamparo, e assim nos faz ver que ele é o único que é capaz de nos salvar!

Pela razão construímos um mundo rico de instrumentos que nos possibilita vencermos tudo aquilo que nos ameaça de dissolução. Não só manipulamos a matéria, como também construímos abrigos ao darmos toda uma estrutura de aconchego, a fim de nos protegermos da fúria da natureza e de tantas outras ameaças que sempre amedrontaram a civilização. Sem dúvidas, a racionalidade é uma das faculdades que integram o ser do homem, uma entre tantas faculdade que o torna consciente sobre o seu destino no mundo. Como não é a unica característica que define o homem, pode-se dizer que somos bem mais complexos do que somente quando somos analisados sob uma ótica materialista, racionalista e positivista.

Enquanto a tecnologia que criamos, resultado de nossa racionalidade, nos possibilita adquirirmos mais comodidade e praticidade para vivermos de uma forma mais aprazível, fazendo com que contemplemos nossas conquistas com tamanho entusiasmo, a fé, por outro lado, surge como uma forma de nos aproximarmos de Deus; ocorre, portanto, quando sentimos necessidade de algo mais abrasante, edificante e consolador para nossas vidas.

A fé possibilita que acreditemos na possibilidade do impossível. Essa possibilidade só temos em vista, quando acreditamos, com todo o nosso fervor, que DEUS é o ser supremo que faz nascer impossível para que possamos nos regozijar com a sua infinita e inescrutável sabedoria. Diante dessa magnitude que pouco podemos entender, qualquer lógica humana é desafiada; ela está, pois, sujeita a grandes questionamentos e abalos.

Para bem dizer, a fé é o que está para além de qualquer regra lógica, como também transcende qualquer sistema fechado de pensamento que não admite o paradoxo e o absurdo como categorias inerentes ao próprio ser do homem. A riqueza da fé é um sentimento que não se esgota enquanto tivermos paixão pela vastidão do eterno agindo sobre nossas vidas; e como qualquer sentimento que promana do resplandecente amor de DEUS, nasce em nosso íntimo mais secreto. E com todos os significados  e razões que provém de nossos corações, como já dizia Pacal, a fé certamente merece receber um grande status de valor, porquanto nos faz aproximar do verdadeiro desígnio que move e ilumina para sempre as nossas vidas.
Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 15/11/2016
Alterado em 17/11/2019
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