TEMPO, MORTE E VIDA
O Tempo- sobre o qual tomamos consciência através de nossa subjetividade-, e a morte- no qual podemos senti-la através do devir e das transformações radicais que nós sofremos-, andam de mãos dadas; um está indissociavelmente ligado ao outro, sem haver qualquer escapatória do ciclo que essa vida nos impõe.
Ambos, tempo e morte, mantêm uma relação de profunda dependência, sem o qual seria impossível o sofrimento e a angústia; o desespero e a dor em toda vastidão do universo (onde grande parte dos seres vivem condicionados pelos instintos, pelos desejos e pela ânsia de perpetuação ao viverem sempre em prol de sua continuidade e da sua conservação).
A nossa condição, portanto, é sentir continuamente o aguilhão da morte nos ferir de agonia...Em nossa breve existência, vivenciamos diariamente os sinais inesperados que a morte e as fantasmagorias do nada provocam em nosso ser, seja através das perdas dos entes que amamos, seja através das doenças mais inexoráveis, seja também através das mudanças bruscas que experenciamos em nosso corpo.
Só quando tomamos consciência de nossa fragilidade e de nossa vulnerabilidade, além de despertarmos para a importância da comiseração com tudo o que vive e sofre (o que nos torna fortes e revigorados em sabedoria!), é que estamos em condições de amar verdadeiramente, especialmente aqueles que mais estimamos com profundo senso de gratidão.
Pois não é pela via da caridade, da compaixão e do amor que triunfamos contra a morte e a miséria espiritual que insitem em ser os hospedeiros de nossas almas? O maior gesto de honestidade que podemos fazer na vida é reconhecer que somos nada além do que míseros viventes que necessitam urgentemente da graça e do amor de Deus. Somente assim podemos viver com um fugaz lampejo de esperança em meio a um mundo repleto de fatalidade e de lutas incessantes.
A manifestação da vida, o seu florescimento, é a quitaessência da esperança. Quando esta é germinada sobre a natureza e sobre o mundo, traz uma grande paz no coração dos homens mais sensíveis.
E, por incrível que pareça, enquanto houver uma ânsia desesperada pela vida, sentiremos a angústia latejar no íntimo, bem como aquele ímpeto de perseverança próprio de homens valentes e lutadores .Tanto os sinais do envelhecimento, quanto a fatalidade das perdas, não deixarão de bater na porta da consciência dos homens. Mas é nos mais diversos renascimentos e nas transformações; nas grandes conquistas e nas descobertas, que podemos encontrar um significado que direciona nossas vidas nos cumes da autorrealização.
Se podemos conceber que morremos todos os dias, porque não podemos conceber, por outro lado, a possibilidade de semearmos benevolência e grandeza de alma frente a um meio corrompido pela cobiça, pela ganância e pela ambição?
Porque, ao invés de tantarmos ludibriar a morte através de uma falsa aparência (como muitos fazem ao se adornarem com algo valioso para compensar o que carece o seu próprio ser), não mostrarmos a beleza de nossas almas por meio da responsabilidade e da integridade? Tais ações, sem dúvida, são frutos adequados para produzirem o sumo da vida e da virtude em abundância.
Sendo assim, em vez de nos perdermos na armadilha de uma falsa necessidade, nada mais gratificante do que elevarmos nossa consciência, de modo que possamos viver da arte do engajamento a fim de realizarmos algo de edificante no mundo que nos rodeia.
Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 10/12/2016