Escrever uma poesia ou um ensaio são maneiras de expressar meus descontentamentos, minhas convicções e todas as ideias que emanam do meu ser...Sem essa capacidade, certamente minha vida seria desprovida de sentido...Nada mais entusiasmante do que falar de mim mesmo através de uma linguagem adornada de incandescente sensibilidade e amor.

Amo as aventuras das experiências que a vida está imbuída, mas também reconheço as dores constantes que a mesma está repleta, ora devido as relações que mantenho com outras pessoas, ora devido a minha própria constituição psíquica. Por essa razão, não encontrei outra maneira de ser verdadeiro comigo mesmo e de ser responsável pela minha existência senão manifestar com rara honestidade as angústias, os desejos, as revoltas, o amor, as esperanças que fazem parte de minhas vivências íntimas.

Ora, escrever, ainda que poucos tenham paciência para ler um paragrafo do que expresso, é uma via onde posso emanar os aromas da minha sensibilidade; esta é uma disposição presente na vida daqueles que, assim como eu, são suscetíveis às efusões líricas na alma e ao afloramento das emoções impulsionadas pelos sentimentos mais diversificados. Sem exteriorizar a emocionante jornada de uma vida, o que seria da minha existência? Sem poder exteriorizar minhas esquisitices e as minhas loucuras, qual o sentido de viver uma existência inteira mergulhada no ócio? Escrever inspirado nas literaturas mais variadas, é portanto uma maneira que encontrei para fortalecer meu psiquismo e dizer o que está guardado no meu coração.

Cioran, filósofo pessimista e profundamente lírico, expressa (de maneira genial) o sentido de ser escritor nessas belas palavras:''Por que escrevo? Por que escrever e para quem? Há necessidades interiores que escapam a essa visão, são de outra natureza, mais íntimas e mais misteriosas, irracionais, porque escrever, por pouco que seja, me ajudou a passar os anos, pois as obsessões 'expressadas' ficam debilitadas e superadas. Estou seguro de que se não houvesse borrado o papel, teria me suicidado há muito tempo. Escrever é um alívio extraordinário".

De fato, há necessidades interiores que transcendem a visão de uma produção intelectual ansiosa unicamente pela obtenção de reconhecimento social. Há necessidades interiores que pulsam no coração, impulsionando incríveis manifestações líricas da alma. Sem a exacerbação da sensibilidade, dificilmente conseguimos desvelar o nosso interior.

Pois ser verdadeiramente escritor é muito mais do que buscar fama e sucesso a qualquer preço através de uma aptidão rara. Não há a menor dúvida de que existam escritores cujo intento é obter reconhecimento social, uma busca perfeitamente compreensível e louvável para aqueles que reconhecem o velor de seu talento...

Mas escrever, com sinceridade e paixão ardente, é antes de qualquer coisa um estilo de vida, uma arte para aqueles que apreciam enriquecer a língua com belas metáforas e, o que é mais interessante, com seu pendor lírico, um pendor suficiente para revelar os meandros do seu ser.

E quanto aqueles que articulam ideias com a finalidade de desenvolverem uma profunda reflexão filosófica, ideias que possam iluminar com sua sapiência as almas dispostas a buscarem a verdade contra as ilusões de nossa sociedade?

Principalmente nos dias contubados de nossa época, precisamos  urgentemente presenciar o nascimento de bons pensadores, pois vivemos num momento histórico em que poucos dispõem de seu tempo para enriquecerm a língua com reflexões cheias de mordacidade, estilo, elegância e sinceridade. O livre pensamento é pouco estimulado no Brasil, até mesmo nas universidades poucos são aqueles que buscam trilhar um caminho original e com maior independência ou genialidade. Mesmo assim, permanece válido para todos aqueles que possuem necessidades intrínsecas que estimulem a produção de obras permeadas de honestidade e criatividade para o leitor.

Escrever com paixão, veemência e entusiasmo é mais do que uma atividade para passar o tempo; é mais do que percorrermos as linhas da história e meditarmos sobre os acontecimentos mais significativos; e, por fim, é mais do que dominarmos um idioma e as sutilizas da linguagem. Para falar com honestidade, escrever é uma incrível experiência das viagens da alma, viagens que precisamos fazer interiormente, a fim de produzirmos algo de sólido e que traga grande edificação na vida do leitor. O quão próximos estamos de conhecer com profundidade a dinâmica do psiquismo de um poeta ao lermos além de sua biografia, toda a sua produção artística! Certamente o mesmo se passa na vida de todos nós que extraimos de nossas experiências de vida a matéria-prima para nossas composições poéticas e filosóficas, na medida em que somos capazes de revelar com maior transparência o nossos estados de espírito, os nossos dramas mais secretos e, também, os abismos e as alturas de nosso ser.