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DECADÊNCIA DO MUNDO
Numa viagem quase volta
Entre escombros e ruínas, Absorvo uma atmosfera sufocante Enquanto medito Com uma vacilante esperança Sobre os desastrosos acontecimentos Envoltos por espessas brumas de ilusão. Sou um poeta desencantado, Mas, sobretudo, errante e aventureiro Que vagueia num pesadelo indelével. O cemitério bruscamente Abriu suas portas sinistras Para que eu possa adentrar Sem segurança enquanto percorro Os seus sinuosos becos sem luz... Desço degraus e mais degraus No abismo de nossa mísera condição... E assim, hesitante e, sobretudo, Ávido de mistérios, Expresso aqui meus gélidos versos Enquanto sinto os hediondos abalos Sobre a arquitetura social Erigida sob pleno descaso. A presença da fraqueza E do espectro do desamparo Estão por todos os cantos... As suas fisionomias Horripilantes e deformadas Convidam-me para a ceia Preparada sem qualquer cuidado e esmero. O sino da igreja no horizonte, Com incrível persistência, Entoa um hino de morte; E muitos, munidos pelo desespero, Permanecem sem convalescença Ao viverem perdidas nas trevas. No fim, sucumbem ao jugo pesado Do escárnio incomensuravelmente atroz, Vivendo sob um descaso Que é gerado pela total corrupção Dos reis, governantes e príncipes da terra. Sinto que há diversos becos sem saídas; Mas em preces ajoelhar-me-ei Diante de tantas máculas e desolações Que bordaram nossos caminhos para sempre! As alegrias diurnas, Irradiadas pela luz Do grande astro da aurora, Foram evanescidas pelo infortúnio Anunciado pelo visual crepuscular Que imergiu o mundo Na vertigem pavorosa do nada, Onde seus raios súbitos, com sua chegada, Anunciam o não-ser... Como numa catedral, Com suas torres pontiagudas, Há caminhos tortuosos E escadarias serpenteantes Que sinalizam a confusão. A lógica do absurdo, Com suas imprecisões e incoerências, É a única realidade singular De cada um de nós: Filhos de um tempo Corrompido pelo logro e pelo descaso... As portas pesadas de nossa era Deixaram infiltrar, Nas suas espessas rachaduras, Os germes da incerteza Que habitou, como uma Desolação universal e peregrina, (Igual a um cigano Que vaga a esmo e perdido Pela falta de verdade) No seio da anêmica humanidade... Uma desolação que não dá tréguas! Um oceano de catástrofes sem fim Se precipita dia após dia, Afundando no caos o mundo; E a noite farta de dias sem vitalidade Marca o tempo de cada um, Cada qual único no sofrimento Que aprendeu a vivenciar Durante aqueles momentos Permeados de trevas opressoras.
Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 29/12/2016
Alterado em 16/04/2020 Copyright © 2016. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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