A MÚSICA COMO EXPRESSÃO DE NOSSAS EXPERIÊNCIAS MAIS ÍNTIMAS
"Há na música qualquer coisa de inefável e de íntimo; além disso, ela passa perto de nós semelhante a imagem de um paraíso familiar embora eternamente inacessível; ela é para nós ao mesmo tempo perfeitamente inteligível e completamente inexplicável; isso deve-se ao fato de que ela nos mostra todos os movimentos do nosso ser, mesmo os mais escondidos, libertos daí em diante dessa realidade que os deforma e os altera." (Arthur Schopenhauer, O mundo como vontade e Representação, C. III, P. 278)
A música é a expressão de nossos sentimentos mais elevados, e enquanto somos afetados por uma rica melodia altissonante, nossa alma vibra a cada sonoridade produzida...ou, porque não dizer, a cada acorde entoado...mas também por cada entonação produzida pelas vozes em cântico repleto de lirismo; vozes em grande harmonia e concórdia, maravilhosamente acompanhadas por uma vasta orquestra.
É por esse motivo que ficamos felizes ao ouvirmos uma canção, seja ela triste ou alegre, melancólica ou esperançosa, pois ela traduz o que é inexplicável, dando a possibilidade da transcendência, e o que é explicável, nos levando a escutarmos melhor os nossos anseios. Schopenhauer, filósofo alemão e teórico da vontade, diz que ela não expressa um desejo ou um amor, uma esperança ou um desespero, mas sim o desejo, a esperança, o amor e o desespero tal como eles são em si mesmos.
A música tem a magia de nos transportar para bem longe, provocando ecos que não sabemos para onde irá repercutir até o seu término, embora seja suficiente para proporcionar aquele encanto que não sabemos racionalmente explicar, mas que é capaz, se for profunda o suficiente, de nos inserir num tempo que não vivemos, num tempo imemorial que nos dá uma doce sensação de estarmos vivendo nele. Diante de uma canção adornada de belas melodias, sentimos o exacerbação de nossos estados de espírito.
Nesse caso, então, a música nos faz evocar lembranças e criar fantasias através dos ritimos que a mesma produz; as canções sempre nos colocam em contato com os nossos sentimentos mais secretos, servindo como um grande alívio para as nossas ansiedades e temores, frustrações e decepções, justamente porque é sobre esses aspectos de nossas vidas que ela também pode exprimir tão bem.
A música é tão fascinante que podemos sentir, ao contemplarmos doces melodias, profunda exultação; é como se um filme sobre nossas vidas estivesse sendo vagarosa ou rapidamente executado! A música serve como uma excelente terapia que apazígua nossas inquietações, amenizando nosso sofrimento psíquico através das possibilidades criadas pelo artista, que exprime a sua maneira suas vivências carregadas de lirismo e emoção.
Cada pessoa, com sua forma de ser-no-mundo, tem um gosto musical que lhe é correspondente e cada um dá um significado especial para um certo tipo de música.Nesse caso não tem certo e errado, pois cada música expressa da sua maneira um estado de espírito e uma situação vivida por cada pessoa, um momento que é propício para se escutar certas canções.
Nos dias de hoje é tão incrível a energia que a música exerce sobre nossas vidas, que foi surgindo, com o tempo e para cada tipo de música, um estilo de se vestir próprio, correspondente a cada estilo de tribo. A música é também forma encontrada pela juventude de expressar a sua rebeldia e descontentamento, mas ela também é um meio que muitos encontram para expressar sentimentos como amor e alegria.
Desde sempre, essa arte serviu para o homem, primitivo ou moderno, como um meio bastante criativo de entrar em comunhão com a divindade, ora através de cultos, ora através de rituais místicos e sagrados, uma vez que o contágio proporcionado por certas músicas, principalmente aquelas que envolvem instrumentos de batidas, coloca muitos em estado de êxtase e de embriagues.
A música, portanto, é a mais perfeita expressão de nossas experiências mais intensas, de tal maneira que poucos ficam indiferentes a ela...esta é um bálsamo que enriquece a nossa vida em todos os aspectos! Quem não sente qualquer emoção e entusiasmo quando ouve uma canção repleta de sonoridades (desde que possamos com sensibilidade auditiva discriminar dando especial atenção à sua mensagem), não só está condenado a uma vida empobrecida espiritualmente, mas também está submetido a uma condição pouco favorável, a vida acaba sendo um desperdício sem potencial de ser algo mais do que uma existência sem paixão, pois a música, principalmente aquelas de grande profundidade espiritual, é um convite ao mergulho para as alturas e para os abismos mais secretos do ser.
Uma música de qualidade pode explorar possibilidades inimagináveis, a partir do momento em que se permite (quando o artista desfila e esbanja seu sentimento mais secreto, numa lírica que desafia qualquer explicação racional) dar asas a criatividade para sondar aquilo que está oculto e desocultar aquilo que está velado; de fato, numa mesma música é possível alternarmos os mais variados degraus de uma escala sonora, ora ascendendo, ora decaindo, a depender do enredo e da experimentação permitida numa canção.
A música é, portanto, uma via mais serena e agradável para entrarmos em comunhão com a divindade, não é toa que nos cultos onde são entoados canções de louvor, uma voz única se eleva em prol de um mesmo objetivo: louvar aquele que nos ama incomensuravelmente...os cânticoss entoados, sejam em igrejas ou templos, sempre consolam a alma daqueles que buscam conforto e esperança para suas vidas!
Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 03/01/2017
Alterado em 06/04/2020