REFLEXÕES SOBRE O TEMPO
No dia a dia andamos tão apressados para fazer as coisas que são exigidas pela sociedade e, além disso, ficamos tão ansiosos para tentar resolver as coisas da forma mais eficaz possível, às vezes se aproximando do abismo que o perfeccionismo nos leva, que esquecemos de dar valor naqueles momentos mais simples e edificantes da vida, ao lado das pessoas que mais estimamos, haja vista o significado que elas tem para nossas vidas.
Muitas vezes deixamos de maneira negligente que os compromissos mais frívolos impeçam de aproveitarmos os momentos sublimes da vida ao lado dos amigos mais verdadeiros; muitas vezes a ansiedade do dia a dia impede que vivamos com alegria e paz interior (é importante não se esquecer que também somos seres sociáveis e necessitados também do cuidado do outro).
A exigência social é tão grande que o tempo, ao invés de ser um aliado para o nosso desenvolvimento e crescimento pessoal, acaba se tornando um inimigo.O mais incrível de tudo essa situação precária, é que o tempo acaba se tornando algo exterior de muitos indivíduos, um relógio que cronometra todos os seus passos como se fosse um vampiro a devorar suas possibilidades, quando na verdade o tempo somos nós mesmos que fazemos; pois o tempo, na realidade, se faz através de vivências, memórias, relações, experiências, em resumo: o tempo se descortina no horizonte da interioridade humana; não tem, portanto, nada haver com o relógio a medir o espaço que percorremos.
Somos, portanto, o tempo e cada um, com suas limitações e facilidades, tem o seu próprio tempo. O que é o tempo de um para festejar não é o tempo de outro que busca no silêncio o encontro consigo mesmo e com Deus; o que é o tempo deste para se recolher e refletir não é o tempo daquele para viver experiências mais marcantes e de forte carga emocional.
Um dos mais belos livros escritos sem dúvida foi o Eclesiástes, que diz de forma muito poética e fluida que tudo tem, aos olhos de DEUS, o seu tempo determinado para as coisas acontecerem e se cumprirem (parafraseando esse belo livro, um dos livros mais filosóficos e poéticos escritos por um sábio do antigo testamento, Salomão, tudo nessa vida tem o seu tempo, um tempo próprio para chorar e um tempo próprio para amar; um tempo propício para festejar e um tempo propício para viver em paz; um tempo para viver de esperança e um tempo para semear, bem como um tempo para colher os frutos do que plantamos... enfim, para tudo nessa vida tem o seu tempo e, ainda segundo ele, um tempo próprio para que as coisas mais importantes e necessárias da vida possam se cumprir!).
Infelizmente, em nossa época, estamos notando de forma melancólica o quanto a nossa vida e tudo o que faz parte dela está se sucedendo vertiginosamente rápido, muitas vezes sem termos aproveitado o direito de desfrutar suficientemente das várias fases da mesma. Estamos vivendo numa época injetada de informações de todos os tipos e muitas vezes sem termos senso crítico suficiente para avaliar e refletir se muitas convém prestarmos atenção nelas.
Consequentemente, deixamos de prestar atenção também naquilo que convém para o nosso amadurecimento como pessoas; enfim, é como se tudo não passasse de algo descartável e sem valor, apenas um amontoado de informações e conhecimentos despejados ao monte todos dias, ao ponto de muitas pessoas terem dificuldade de discriminarem entre umas e outras.
A vida precisa de algo mais para que haja sentido nela e se por algum motivo deixamos de aproveitar o nosso próprio tempo da melhor forma possível, o tempo caracterizado pelas nossos vivências mais ricas, seja interna, seja externamente na convivência com nossos semelhantes, corremos o risco de sentirmos de tempos em tempos um esvaziamento existencial fomentada por essa sociedade do efêmero, uma sociedade que trata todos os indivíduos como uma engrenagem descartável e sem qualquer vontade própria (por ser até mais fácil de se adequarem de forma resignada às suas exigências...). E quanto mais a nossa vida for pensada como um meio, e não como fim em si mesma, mais ela se tornará empobrecida e superficial!
Mas se por um milagre começarmos a perceber, cada vez mais, o tempo como algo muito mais precioso do que esse que aproveitamos para fazer coisas que não nos faz crescer em nada como pessoas melhores, logo passaremos a encarar a vida por um outro viés, mas dessa vez procurando vivenciar instantes que edificam a nossa vida, pois o tempo não é aquilo que fazem de fora para agirmos mecanicamente de forma resignada e conformista, e sim o tempo que somos nós mesmos que o criamos; podemos fazer de nossos instantes, se quisermos e tivermos tamanha força de vontade, sempre mais plenos e enriquecidos de epifanias.
Sentimos que estamos vivos quando nos adornamos de experiências valiosas para a nossa aptidão para o discernimento, ou então, quando evocamos lembranças marcantes, suficientes para revermos nossos valores e revivermos os acontecimentos significativos do passado. O tempo está ao nosso favor também através dos planos mais estratégicos para o futuro ou, então, quando somos diligentes para a realização de nossos sonhos. Mas se não darmos ao tempo valor que merece, nos sujeitando às situações brutalmente empobrecidas, corremos o risco de lamentarmos pelo resto da vida por não termos sido nada além do que meros sobreviventes; mas se, ao invés disso, procurarmos enriquecer nossa existência fazendo boas obras enquanto nos apegamos a tudo o que desafia ao determinismo de uma cega causalidade, então o tempo que foi nos dado para viver sobre a terra terá superado uma condição de miséria e de extremo esvaziamento. Pois só fazendo valer cada fase da vida com tudo o que fomos, vislumbraremos um sentido no caminhar de nossa longa jornada, a fim de nos alegrarmos por tudo o que fizemos e vivemos... e até mesmo o sofrimento que passamos, vendo por essa perspectiva, podemos dar o seu devido valor, quando o que está em jogo é o nosso amadurecimento pessoal.
Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 20/01/2017
Alterado em 20/01/2017