MEMÓRIA TEMPO E ETERNIDADE
Manter uma existência mais enriquecida em acontecimentos que sejam saudáveis e inesquecíveis, não seria uma bela maneira de vivenciarmos, subjetiva e interiormente falando, um fragmento de eternidade, haja vista o impacto positivo deixado para sempre na memória? Manter uma existência sempre preenchida daqueles momentos intensos e significativos para o nosso amadurecimento espiritual, mesmo sabendo que os instantes se esvaem na hora que menos esperamos haver tamanha surpresa (...) mas não importa! São eles que verdadeiramente guardamos como testemunho de uma vida, momentos que fortalecem o nosso ser, nos tornando mais perseverantes para o que a vida espiritual tem a nos trazer para a ampliação de nossos horizontes e perspectivas.
O que nos faz vislumbrar uma luz de eternidade no tempo vivido por cada um de nós, mesmo que sejam pequenos lampejos, não são aqueles resquícios de lembranças que contribuíram para fazer de nós pessoas mais amadurecidas, levando em consideração apenas as circunstâncias que facilitaram nosso processo de aprendizado e libertação frente a nossa condição?
O tempo em que vivemos no mundo, principalmente nos dias de hoje, passa tão depressa que, quando paramos para refletir sobre o que estamos fazendo de nossas vidas, ficamos atordoados pela vertigem que o devir nos causa; são tantas as mudanças que sofremos e as direções que, sem ao certo saber, escolhemos trilhar, que muitas vezes acabamos indo atrás de algo que possa nos consolar de tamanha fragilidade a qual estamos submetidos (um abrigo que seja mais seguro contra as adversidades bruscas dos instantes).
Quando resgatamos pela memória fragmentos de vivências salutares, ou seja, aquelas lembranças que permanecem vivas em nosso mundo íntimo, lembranças que ainda não foram soterradas pelo tempo, voltamos a dar um novo significado à nossa vida; e nesse movimento que fazemos, conseguimos desobstruir os obstáculos que impedem nossa caminhada para o porvir, pois viver os instantes eternizados pela memória (|sem deixar que sucumbamos no lodo da amargura que a nostalgia causa; mas antes construir uma narrativa que explique a razão de ser para o fato de existirmos), é fazer com nossa história de vida emerja; e, por meio dela, resgatarmos aqueles momentos únicos vividos aos sabores daquela alegria primordial que nos faz tantas vezes revivê-la à luz de uma reminiscência (porém, dessa vez sob a direção de uma outra situação que se anunciou em nossas vidas).
Ao contrário daqueles momentos que passam depressa, haja visto o grau de plenitude das vivências experimentadas na mais próspera bem-aventurança, nos deixando, com compensação, marcas indeléveis em nossa memória, marcas que edificam nossa morada espiritual; também há aqueles que passam tão devagar que acabamos sucumbindo ao fastio e ao tédio da vida, pois nos lançam na ausência de sentido, sem encontrarmos motivação para tudo aquilo que estamos acostumados a fazer em nossa cotidianidade.
Há momentos da vida que são pouco significativos e pobres experiências marcantes; de fato, não são eternizados em nosso íntimo mais secreto: é como se estivéssemos vagando à deriva, sem qualquer direção e rumo; além disso, nos deixa suspensos no vazio de uma tal forma que muitas vezes o não-ser acaba se tornando preferível. Daí a quantidade de casos de suicídios espalhados pelo mundo, onde o indivíduo ao experimentar o absurdo de sua existência, acaba escolhendo, no último grau de desespero, dar fim a vida que tanto almeja viver de forma próspera.
Existem também momentos que são desperdiçados nos vícios e servem como uma fuga do presente; entre eles estão os vícios dos jogos compulsivos, os vícios das drogas (hoje o mercado negro drogas é uma das maiores fontes de lucro, sendo a fragilidade humana um trampolim para o sucesso incomensurável dos traficantes e para o andamento de seus comércios fraudulentos; comércios esses que são os grandes mantenedores da escravidão humana sob o poder irrestrito de homens que lucram com a miséria humana) e, um dos vícios mais nefastos para a dignidade humana: os da prostituição, independente se eles sejam aceitos ou não socialmente.
Todos esse vícios são formas malogradas de vencer o tédio, o absurdo e o fastio que a nossa existência está sujeita quando se desvia da luz que advém do eterno amor de Deus. São os momentos desperdiçados na miséria dos vícios, o retrato mais sombrio e miserável da história das sociedades e da humanidade, tendo como consequência a própria morte ainda em vida. Pois o que poderia ser mais perecível do que esses momentos em que ficamos escravos dessas situações onde a dependência por algo finito é o que impera? O que poderia ser mais perecível senão esses instantes em que ficamos a mercê da decrepitude, da promiscuidade e da perversidade, na medida em que somos impelidos para o declínio de nosso próprio ser (deteriorado naquilo que não nos faz crescer em nada, de tal modo que a vida se transforma numa terrível ruína)?
Apesar de haver muitas recordações que nos marcam negativamente, fazendo com que permaneça em nossa memória aqueles rastros de ressentimento e ódio, não poderiam, pelo peso sombrio que cinge nossas almas, ter alguma participação na eternidade, pois o que poderia ser mais perecível em nossas vidas do que os resquícios de ressentimento, ódio e inveja, essas sementes podres que nos empurram à beira da morte?
Quando somos tomados por esses sentimentos acabamos sendo vítimas das consequências que eles trazem, onde corremos o risco, caso não nos desvencilhemos de suas amarras, de sermos aniquilados de forma lenta e dolorosa; levamos, até o fim de nossa jornada, essa negatividade que nos envenena sobremaneira, ainda mais quando damos grande abertura para esta se instalar em nossos corações!
Porém quando nos desvencilhamos dos traumas gerados pelos acontecimentos negativos que marcaram nossas vidas, como uma pessoa que se liberta de uma prisão, ficamos mais leves; pala leveza que a graça proporciona, conseguimos fazer com que os bons momentos, ao lado de quem amamos, possam guiar nossas vidas, mas desde que permitamos que o amor, a compaixão ativa e a caridade tomam conta de nosso ser, sentimentos que nos faz aproximar da eternidade, pois o que poderia ser mais indestrutível e imperecível no mundo senão essas forças que irradiam concórdia por onde quer que se manifestam?
Ao invés de sermos tragados e aniquilados vagarosa e amargamente pelo vício do ódio, da vingança e do ressentimento, somos reconstruídos por inteiro, até que a plenitude se faça presente em nós, onde nada no mundo é capaz de obscurecer nossas almas. A partir daí conseguimos pela memória relatar, com grande paixão, as grandes obras que foram feitas, sempre tendo em vista o amor de DEUS pelas nossas vidas, pois é por intermédio dele que conseguimos obter tamanha coragem para vencermos a nossa condição e, por meio dessa vitória, sentirmos livres para semear obras com valor de eternidade resgatada pela memória (haja visto que por intermédio dela, somos capazes de reconstruir todo um trajeto que nos aproxima da mais originária fonte de amor).
Pensar a eternidade requer mais do que um aprofundamento especulativo na metafísica; é antes uma procura por algo que faz lembrar de uma permanente continuidade através de situações que cristalizam em nosso íntimo; ao ponto de sentirmos, a cada dia que se esvai, uma necessidade vital de testemunharmos seus reflexos atravessando nossas almas, ainda que em fugazes cintilações. O que é essa necessidade senão aquele desejo de sentir a presença de Deus em nossas vidas, seja através do poder que a solidariedade e o amor tem de mudar diversos seres, seja através da vivência do sagrado independente de qualquer interpretação ideológia que se faça?
A contemplação do que permanece para sempre, ainda que seja depois de nossa vida terrena (creio eu que depois que morrermos, levaremos todo um banco de dados como testemunho de nossas obras, pelo menos como forma de nos consagrarmos perante o nosso redentor, na medida em que seremos remidos e libertos de tudo aquilo que nos aprisionou durante a vida), é uma maneira imprescindível que muitas almas encontram como forma de lutarem e vencerem a angúsitia da finitude, sendo a vida eterna, depois de nossa morte, sempre um consolo para todos aqueles que nesse mundo tiveram dificuldade para encontar felicidade, descanso e paz.
Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 22/01/2017
Alterado em 24/01/2017