Uma das experiências mais fascinantes é o sonho, que nos convida a prestarmos atenção em nós mesmos; atenção, especialmente, em tantas imagens, símbolos, vivências, medos e esperanças remanescentes como forma de chegarmos a uma compreensão mais plena de nosso ser.

Quando atentamos para aquilo que sonhamos, podemos notar, como bem disse Freud, aqueles conteúdos reprimidos que nosso super-ego censurou para nos protegermos da ansiedade e da angústia, bem como os fragmentos do real percebido mesclados de forma aleatória.

É por essa razão que os conteúdos oníricos sempre se revelam tão estranhos! Nesse pântano cheio de imagens e de símbolos não dá para ficarmos indiferente; é preciso, embora achemos estranho a experiência dos conteúdos oníricos, prestar atenção neles, pois os mesmos sempre nos dão diversas pistas sobre a nossa condição, na qual existem combinações inimagináveis; combinações essas que podem ser desde coisas que não percebemos (aquelas que não notamos na vigília, mas que adentraram via inconsciente, ou seja, que foram apercebidas), até aquelas vivências que percebemos pela via consciente; além, é claro, os lugares que desejamos sempre estar, bem como aqueles lugares que já estivemos inúmeras vezes.

É incrível quando paramos para pensar que foi através dessas visões distorcidas, mas cheias de coerência (mesmo que aparentemente não haja), o que possibilitou o surgimento das visões proféticas, dos contos de fadas, dos mitos, das lendas, enfim, de tudo aquilo que desafia o homem da ciência.

Sem dúvidas, o onirismo é um campo muito vasto para quem deseja se aventurar por essas regiões extremamente fascinantes, porém é uma área ainda pouco estudada pela ciência psicológica e pela psiquiatria (apesar de já haver uma literatura rica no assunto, cujos maiores representantes foram Freud e Jung).

Quantas explicações podemos dar sobre um único fenômeno! Mas explicar e descrever um fenômeno não basta, pois é imprescindível que haja uma profunda compreensão do mundo das vivências de uma pessoa; além de sensibilidade e respeito pelo seu testemunho de vida!

A experiência onírica é, de fato, uma vivência e não somente uma miragem sem qualquer significado; revela ao sonhador uma pequena via para a descoberta de tudo aquilo que integra o seu ser; e isso inclui também o pesadelo, que coloca diante deste tudo aquilo que ele não conseguiu superar em vigília, ou seja, os traumas, os medos, as inseguranças, incertezas e demais experiências aterrorizantes.

Enquanto isso não acontece, as experiências desagradáveis dos pesadelos, confrontará tal ser humano nos momentos mais delicados, especialmente se este no seu dia a dia tentar camuflar suas angústias através de prazeres imediatos e fugazes. Os fenômenos dos sonhos agradáveis e dos pesadelos sempre dizem algo sobre a condição em que um sonhador vive; os sonhos, portanto, são a mais profunda revelação dos conflitos, das vontades e dos anseios de um ser humano para si mesmo.