NA ILHA DOS MEDOS
Uma praça artificial
E um parque guarnecido de exuberância
Foram feitos para abrigar
Toda forma de comodidade e segurança
Como maneiras de ''libertarem''
Os moradores do caos da sociedade.
Mas bem no íntimo
Ainda há alguns vestígios
De temores e inseguranças.
Tanto estes quanto aqueles
Espreitam muitos semblantes carrancudos,
Hoje tão perdidos no anonimato do absurdo!
Uma ilha revestida com todos os privilégios
E conforto os mais diversificados,
Só contribui para que a fantasmagoria
De um sentimento súbito
Acompanhe a vida confortável
Dos habitantes perdidos dessa ilha.
Superprotegidos pelas muralhas da desolação,
Os abastados manter-se-ão sempre rodeados
Por poderosos aparatos de segurança
Instalados por todas as direções;
E o cativeiro instituído em nome do ‘’bem comum’’
Se revestiu de um nome
Até mais harmonioso e mais aprazível...
Porém suficiente para todos acreditarem
Que vivem num paraíso próspero.
Um homem sai à rua
Disfarçado de outro que não seja ele mesmo;
Uma mulher com seu filho pálido e sem vida
Percorre um caminho tão curto que não é possível
Vislumbrar melhor a beleza do dia;
Já a idosa, naturalmente fragilizada e cansada,
Prefere perecer no seu asilo,
Em vez de contemplar
O que há de mais convidativo e interessante
Ao redor do seu castelo de ilusões
Sob o disfarce da comodidade e do conforto.
O que aconteceu com todas essas pessoas
E seus planos estratégicos e à longo prazo
Para uma vida mais feliz e livre?
Foram convencidos nessa zona de conforto
A viverem na letargia e no conformismo;
Mas, sobretudo, foram persuadidos
Em se contentarem
Com as diversões, as ilusões
E os demais subterfúgios proporcionados
Sob muito zelo sombrio e despótico...
O que resta de agora em diante
É apenas vislumbrarem,
Com a boca farta de miséria,
O seu suntuoso e abastado claustro
Disfarçado de habitação.
Um claustro que não faz outra coisa senão
Anestesiar toda a intensidade
De seu inaudível sofrimento.
Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 30/01/2017
Alterado em 15/06/2019
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