O LIRISMO DAS PAIXÕES HUMANAS
Kierkegaard, filósofo dinamarquês, concebe a existência humana, bem como a virtude religiosa da fé em Deus, como paixão. Enfatiza que um indivíduo sem paixão, está fadado a uma vida medíocre e banal. Sem dúvidas, a seiva lírica oriunda de nossas paixões nos impulsiona a fazermos algo no mundo em que vivemos, pois o que seria das criações produzidas pelos artistas, ou a marcha dos grandes revolucionários que fizeram história, ou então, o talento dos poetas e dos músicos, ou, ainda, o fervor profundo dos grandes místicos, se não houvesse neles aquele ímpeto avassalador que dá significado à vida? Quão intenso é um ser humano impulsionado pelo amor à vida! Quão profundo é o lirismo que promana de suas grandes paixões, um lirismo capaz de incendiar o seu fulgor libertário para todas as direções, a fim de consolidar, com toda a riqueza interior que emerge do coração, os seus próprios domínios naquilo que faz de tão nobre! Um ser humano sem paixão, principalmente os que fazem pouca diferença por onde quer que estejam, é como alguém desprovido de sonhos, perseverança e vontade, ou seja, é alguém que faz o que faz, simplesmente porque disseram que é bom (faz simplesmente por fazer, ou então, faz apenas como uma obrigação), o que é, sem dúvidas, um grande absurdo! Portanto, se torna inconcebível pensar na existência de alguém nessa condição: uma existência sem paixão pela vida, pelas almas, pelos seres vivos, enfim, sem paixão para manifestar a força do seu amor por aquele que estima (...) Pois as paixões são justamente a grande força que move os homens; as paixões mais ardentes dão intensidade às mais belas poesias que surgem das experiências da vida. As paixões, com seu lirismo, não deixam de ser riquezas interiores que os poetas e os amantes da poesia exprimem e partilham nos momentos da vida em que precisam atravessar caminhos perigosos e sombrios, a fim de concretizarem os seus projetos aparentemente (in)-concretizáveis e (in)-concebíveis, projetos tão incompreendidos pela grande maioria das pessoas.
Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 28/04/2017
Alterado em 15/12/2017