O CAMINHO DA COMPREENSÃO
A compreensão é, certamente, o único caminho para nos aproximarmos intimamente de outro ser humano, pois favorece o diálogo sem reservas que, por sua vez, faz germinar a amizade e a confiança entre dois seres. De fato, a eficácia dessa atitude pode libertar outras vidas dos fantasmas do desespero, da solidão e da ausência de sentido.
Já o fanatismo e a intolerância, as grandes inimigas da possibilidade de uma compreensão sincera, são as atitudes mais apropriadas para nos mantermos em guerra com outras pessoas. A eficácia dessa atitude pode contribuir para a destruição de lares e das boas amizades; e, o que é ainda mais grave, contribui para fomentar um conflito perpétuo entre nações e grupos étnicos com costumes tão diferentes entre si.
Nessa segunda atitude, sempre haverá ódio, inimizades e condenação. Cada indivíduo acreditará ser o juiz absoluto do seu semelhante, desencadeando, sempre que a ocasião seja mais propícia, uma sede de sangue sem precedentes.
Em contrapartida, na atitude da compreensão aprendemos muito com as vivências de outrem, além de termos o privilégio de caminharmos juntos com aquele que confia os seus segredos e as suas memórias mais recônditas. Esse é um gesto que esparge as sementes da graça nos solos estéreis das almas abatidas, contribuindo para o crescimento dos frutos do espírito, como amor, compaixão, longanimidade e perdão.
Não é por acaso que tantos psicólogos e médicos (num tempo de tanta desumanização nos manicômios e no tratamento das doenças) encontraram na arte da compreensão um excelente recurso para o aprimoramento da escuta do paciente enfermo. A genialidade de Freud reside muito mais no seu método de associação livre e na forma como ele abordava os seus pacientes, ou seja, de forma compreensiva e serena, do que nos termos que empregou para a elaboração de uma nova perspectiva para a ciência (o que não deixa de ser extremamente significativo para a psicologia).
A livre associação é um método interessante que leva em consideração tudo o que o paciente diz ou expressa, sem desconsiderar a sua história de vida, as suas lacunas e as razões de suas atitudes. Esse método parte de uma escuta diferenciada que visa o tratamento das neuroses e dos desiquilíbrios de ordem emocionais (uma atitude que ajuda o psicólogo a ter um respeito abissal pelo sofrimento do paciente). Mais adiante, esse método de Freud auxiliou Carl Rogers na prática clínica e psicopedagógica, além de trazer contribuições para a educação. Com esses subsídios, ele pode aprimorar o estudo da compreensão e da empatia, dando contribuições profundas para a psicologia e para o pensamento humano.
Mas indo além da psicologia, a compreensão é um bem que qualquer ser humano deveria ter no coração, pois somente dessa forma podemos saber o que se passa e acontece na vida daquele que parece ser aos nossos olhos tão inacessível e estranho. A compreensão é, portanto, sempre um desafio para qualquer trabalho missionário ou de evangelização. Na verdade, só podemos mostrar um caminho verdadeiro para uma vida desiludida se soubermos lhe propiciar acolhimento, amor e entendimento para as suas inquietações.
Compreender é muito mais do que um trabalho restrito a psicólogos e missionários. Uma pessoa compreensiva procura sempre que possível não julgar os erros de outrem, condenando-a como indigna, mas intenta manter uma postura sábia para ajudá-la a vencer as suas próprias dificuldades e problemas, nunca negando o seu potencial para a mudança dos seus velhos alvos e perspectivas.
Compreender é para todas as almas que têm dignidade e sensibilidade. Compreender significa darmos espaço para o outro partilhar as suas vivências ou experiências, de modo que possamos entender e apreender (abarcar com profundidade) as suas motivações, dores, sofrimentos, ideias, pensamentos, perspectivas e sonhos, num gesto de respeito e preocupação sincera. Sem compreensão, não existe ajuda, seja ela de que natureza for dotada. E sem compreensão, não pode haver amor ao próximo, até porque nessa atitude já está implícito e enraizado a própria dádiva da caridade, sendo essa uma virtude tão proclamada nos evangelhos e nas epístolas paulinas.
Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 05/08/2018
Alterado em 17/12/2019