Às vezes, comunicar com clareza certas experiências ou estados de alma é tão difícil para mim, que só uma linguagem bem complexa e insólita pode abarcá-las em todas as suas nuances. E mesmo assim, a luz de discernimento que ela lança é um tanto quanto tênue, pois está longe de fazer jus aquilo que de fato ela busca evidenciar. No entanto, não faço outra coisa senão tentar no silêncio da meditação imaginar o inescrutável com toda a força do meu ser; e, assim, fazer com que minh'alma possa sonhar com o despertar de inesperadas intuições. É, pois, uma tentativa poética de dar abertura para o transcendente através das percepções mais acuradas da alma, sem, obviamente, cair na arrogância de achar que sou incrível pelos malabarismos que faço com tão ínfimos recursos de linguagem. Ao contrário, me considero pequeno pelo pouco que sei e pelo nada que sou frente à totalidade a qual permanece sempre inapreensível, até mesmo para os níveis mais superiores de inteligência. Procuro também exprimir o inexprimível; ou seja, falar daquilo que pouco consigo expressar em palavras com o intento de fazer questionamentos e elucubrações. É, seguramente, um exercício criativo de exercitar a minha sensibilidade, bem como a minha capacidade de refletir, de devanear e de sonhar, embora certas vivências interiores nas quais tenho vontade de partilhar guardam aquelas fragrâncias que só o silêncio num recolhimento solitário pode ajudar a compreendê-las de uma maneira mais profunda e admirável. É o silencio frente ao inefável a poesia mais perfeita ainda não escrita e com a qual habilitamos os nossos sonhos; e a sabedoria mais elevada para o qual não há palavras e tampouco interpretações.