REFLEXÕES DE UM HOMEM SOLITÁRIO
Hoje o mundo está em clima de festa. Muitas famílias já estão reunidas para a comemoração do natal que se aproxima a passos apressados tal como as próprias pessoas nos seus preparativos de fim de ano. Eu, como de hábito, não tenho muito o que comemorar nesse dia, não porque sou uma pessoa amarga, ressentida ou odiosa, mas porque perdi esse costume há muito tempo e por ser uma solitária e sem família.
Só o que posso fazer nesse momento em que escrevo é expressar as minhas ideias e partilhar algumas das minhas lembranças contigo, meu caro leitor! Peço perdão por não conduzí-lo para lugares repletos de pessoas. O que pretendo é falar de mim e do que eu penso de uma vida solitária para quem busca me conhecer com mais profundidade.
Eu me chamo André, tenho 41 e perdi o meu maior tesouro há dois anos atrás. A minha mãe era o que eu tinha de mais precioso, era a minha doce companhia, na qual eu podia discorrer sobre minhas alegrias e desilusões. A sua morte aconteceu dez anos depois do meu progenitor, o qual não tenho muito o que dizer a respeito. Minha mãezinha era amável comigo e fszia de tudo por mim; enfim, era um ser humano genoroso e de grande coração. Não tenho, definitivamente, nenhuma lembrança ruim dela. Depois de sua morte, as pessoas mais próximas de mim passaram a ser os meus tios e primos, mas procuro só visitá-los de vez em quando para não ser um peso na vida de ninguém. Além deles, tenho meus amigos que são tão excêntricos como eu.
Quero deixar claro, meu caro leitor, que não fico ressentido por ser um-quase-completamente sozinho no mundo em que vivo, apenas saliento que essa condição de homem solitário e vazio de convivências duradouras (tem dias que consigo encontrar pessoas para manter diálogos embuídos de sensibilidade e intensidade) que me proporcionam uma maneira diferenciada de ver o mundo e a sociedade.
Procuro não manter amizades qur fiquem na mera superficialidade. Quando tenho alguém para dialogar, procuro as profundidades e as alturas. Gosto de transcender o ordinário da vida através de experiências inefáveis, valiosas e perenes. São nesses encontros que sou capaz de ultrapassar as minhas expectativas e de mudar os meus planos. Eles me trazem enriquecedoras intuições, intensas alegrias e grandes inspirações.
Nos fins de semana procuro andar pelas largas avenidas de São Paulo e também comprar alguns livros. Também costumo beber com entusiasmo uma garrafa de vinho tinto enquanto devaneio e camimho a esmo para sentir a energia desse estranho macrocosmo abarrotado de lojas, carros, homens pedindo esmolas e pessoas importamtes socialmente, cuja pressa frenética parece que nunca chegam a lugar algum.
Sinceramente, adiquiri um estranho hábito de observar o movimento de uma multidão de pessoas apressadas nas calçadas sujas dessa grande cidade. A partir dessa vivência, consigo tecer boas reflexões sobre a existência e o sentido da vida! Pois até hoje não encontrei qualquer significado em só viver na correria, sem nada mais fazer senão cumprir metas alheias.
Já nos dias de semana, eu trabalho como funcionário público numa escola, o que me deixa cansado! Busco superar essa dor vivendo uma vida de sonhos. Sou um modesto auxiliar administrativo que, como a maioria dos brasileiros, tem uma vida rotineira. Mas prefiro não me deter muito nesse assinto! Ah, como é árduo vivênciar nos cinco dias da semana as mesmas coisas de sempre! Como é enfadonho sentir na alma o gosto da repetição e da mesmice!
No meio desse deserto que atravesso, para dizer que não sou uma pessoa sem ânimo na vida, ando todos os dias com livros para resgatar sempre aquela paixão pela vida que só uma alma criativa e cheia de ideias pode propiciar Além disso, busco varias minhas leituras, pois assim sei que posso pairar um pouco mais acima desa realidade inexorável e sombria! Tais leituras certamente me salvam dos dias esvaziados de emoções...Aliás, são elas as minhas verdadeiras emoções, como também um alento para a minha existência!
Ao contrário das pessoas que apreciam festas, baladas e "muitas amizades", prefiro ter uma vida solitária e, também, decidi ter poucos amigos do meu lado para conversar. Eu escolhi somente algumas pessoas para partilhar ideias e gostos em comum. Curiosamente, não sou difícil de conviver e tampouco sou um homem dos subterrâneos, cujo rancor supera qualquer alma pessismista.
Nessa noite de festas, farturas, risadas, abraços, desejos e sonhos parilhados; nessa noite, repito, inebriada pelo clima do natal enquanto boa parte das pessoas comemoram sei lá o que, eu fico aqui em casa ouvindo um velho rock in roll. De repente, sem pestanejar, eu abro uma garrafa de vinho e o despejo na taça para degustar preciosos goles dessa bebida formidável, cuja coloração escarlata e cheiro aveludado encanta sobremaneira os meus sentidos como uma dama sedutora. Passa alguns minutos, e eis que me sinto um pouco mais alto, mas o suficiente para começar a divagar!
Em seguida pego um livro de poemas para incendiar minhas ideias. A festa está preparada! Como é aprazível estar consigo mesmo, vivendo uma dourada noite de núpcias de um homem em busca de si mesmo e de sua grandeza interior, uma noote embalada pelo rock, pelo vinho, pelos devaneios, pelas nostalgias, pelos sonhos, pelas memórias e por uma série de intuições nunca antes obtidas!
Enquanto ouço os meus vizinhos se divertirem e comemorarem esse dia sem fazerem questão de refletir sobre o significado dessa festividade; enquanto se reunem apenas pelo pretexto de reverem parentes que quase não se veem o ano inteiro, eu vivo, em contrapartida, instantes de solidão e, ao memso tempo, me mantenho imbuído de subterfúgios que me ajudam a enriquecer a minha criatividade e inspiração.
Certamente seria bom estar com uma namorada e desfrutar das alagrias que essa relação pode taão perfeitamente proporcionar. Mas confesso que é igualmente prazeroso estar sozinho para viver a liberdade de ser si-mesmo, ainda que haja memórias dolorosas que eu precise visitar e sonhos difíceis de realizar que preciso reconhecer, a fim de que um dia eu possa, enfim, alcançá-los.
Obviamente sofri muito com a perda da minha mãezinha. Mas com o passar do tempo, a dor de um luto passageiro se torna cada vez menor e a vida segue o seu rumo...Depois dese acontecimento, precisei elaborar novas perspectivas, sem falar que a minha maneira de encarar a vida se transfigurou. Hoje, além de estar mais solitário, me tornei uma pessoa ainda mais introspectica e difusa.
Às vezes, acho nem pareço ser desse mundo. Mas o que importa? Infelizmente pessoas excêntricas, como eu, não são bem vistas pelas demais pessoas. A respeito disso, até acho fascinante...ser diferente e como um estrangeiro no mundo é próprio de quem não se conforma em viver no meio da massa como uma mera existência sem rosto, sem vida própria e personalidade marcante.
Evidentemente, eu tiro proveito por ser eu mesmo, ainda que seja o ser humano mais ignorado pelas outras pessoas. Prefiro ter os meus valores, em vez de deixá-los de ter para agradar o ego de quem quer que seja. Pois é, meu querido e amigo leitor, assim tenho vivido os meus dias na terra. Confesso que o desânimo bate na minha porta, mas procuro viver de esperança e sonhos. Os livros tem sido, como já havia dito, meus companheiros. Um romance de Vitor Hugo, de Cervantes e Dostoiéviski, são.mais interessantes do que a convivência social mediana e ordinária de todos os dias.
São justamente essas obras-primas imortais que nos ajudam a encontrar ecos de eternidade e beleza até mesmo nas pequenas descriçãoes e nas vivências mais imperceptíveis dos seus personagens. São nelas onde encontro, nas minhas vastas horas de solidão, consolo e refúgio para minha alma se deleitar ao mergulhar em todas as suas nuances e digressões! De uma forma intensa, eu sei me alegrar tanto nessas leituras quanto na inspiração que dimana do sagrado e do divino, a qual também tenho imenso prazer em me aventurar!
As pessoas de nosso tempo parece que perderam sua identidade por causa de suas ambições, máscaras e ganancias intermináveis. Então, por conta disso, passei a escolher certas pessoas para estar perto, pessoas que tem o dom valioso da compreensão, do respeito e da liberdade para reinventarem.
Posso dizer sem medo de errar que cansei de ser amigo de todos e ficar vazio de mim mesmo. Cansei de ser bem visto pelos outros e ser mal-visto pela mimha própria consciência. Estou farto de fazer o que outros fazem sem entender porque tem que ser desse jeito. Hoje eu faço certas coisas porque penso, divago e imagino antes mesmo que me digam o que deve ser posto em ação. Hoje eu faço as coisas que alimentam o meu espírito sem qualquer insegurança de pensar sobre o que as demais pesssoas irão achar de mim. Pois sei muito bem, e estou pacificado quanto a isso, que quem me amar irá ser forte não só para conhecer as minhas virtudes, mas também os abismos do meu próprio ser e caminhar junto comigo em meio aos nevoeiros desse vasto mundo.
Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 16/10/2019
Alterado em 16/10/2019