Ler um livro não consiste somente numa mera passividade do ser envolvido na compreensão de seu conteúdo, mas também numa rica e constante atividade intelectual, psicológica e espiritual com o seu universo, cuja relação é desbravar sentidos que norteiam a vida do leitor. As imagens criadas numa obra, por exemplo, podem ser muito bem ser deformadas pela fantasia e revividas pela força imaginativa enquanto o leitor passa a exercer a sua criatividade no contato profundo com a literatura em questão. Por isso, ele não pode ser somente um reprodutor de imagens mas também um construtor de novas realidades em cima daquelas que lhe foram apresentadas. Na leitura de uma obra, para que haja o processo de aprendizagem, existe um profundo trabalho que envolve a junção todas as faculdades humanas, como por exemplo, memória, atenção, imaginação, percepção, interpretação, etc. Existe na magia da leitura não só a intencionalidade do escritor comprometido em trazer um determinado conhecimento, mas a compreensão do próprio leitor, cujo itinerário transcende qualquer expectativa de quem produziu a obra. Pois o que está em jogo não é a objetividade absoluta de uma criação, mas a interação entre subjetividades que se torna possível tanto pelo empenho do ato de quem escreve, quanto pelo esforço de quem lê. O conteúdo presente no livro nunca é algo acabado e definitivo, mas sempre ganha novas configurações mediadas pela interpretação, pela fantasia e pela sensibilidade de um outro ser. Um trabalho de leitura sempre acrescenta outras observações e intencionalidades que às vezes nem o escritor foi capaz de perceber e imaginar, o que tira a ideia de que o sentido de uma literatura é apenas dado pelo seu autor. Não seria exagerado dizer que um leitor também é um autor ou então um co-autor, pois o conhecimento que ele transmite daquilo que leu é baseado no amalgama de suas própria vivencias, especialmente aquelas que diz respeito a sua relacionalidade com o universo da obra estudada.