Mais importante do que se filiar a uma posição ideológica (defendendo-a indiscriminadamente), cuja cartilha nos ensina qual é o objetivo de nossa luta e também qual a opinião que devemos defender, é desenvolvermos o dom da humildade para respeitar cada pessoa que passa por nós, independente de seu gênero, raça, etnia ou religião. O respeito por qualquer forma de vida, uma disposição que rompe com todo véu ideológico, aparência e sentimento de preciosismo decorrente de uma posição social avantajada, é a única forma de luta social que visa a união, a paz e a concórdia entre seres distintos. Essa disposição, portanto, deve sempre vir antes de qualquer dogma cujo foco é a divisão de seres humanos em guetos, facções e grupos, sejam eles reacionários ou revolucionários. A verdade manifestada por uma boa índole se frutifica muito mais entre os que são diferentes, do que propriamente entre os que pensam da mesma forma. De fato, é sempre um grande desafio compreender o estranho e o distante, mas também é uma enorme conquista, especialmente quando somos bons artistas para fazermos progressos desse tipo. Existe, portanto, mais valor e virtude em pensamentos e atitudes que transcendem a zona de conforto de nossas certezas, lugares-comuns ou pseudo-crenças, os quais abrem espaço para a amizade sem fronteiras e que estão para além de qualquer estigma ou estereótipo, do que ações que só podem nos manter presos em nossos preconceitos e impedidos de estabelecermos um diálogo profundo com o diferente e o estrangeiro.