Uma das melhores vivências com o divino e com o sagrado (vivências que resgatam, de certa forma, a inocência, a jovialidade e os sonhos mais primaveris) foi aprender a ver, com a minha visão desanuviada por uma sofisticada simplicidade, a beleza nas pequenas situações da vida; e a cultivar o gosto na contemplação da alegria e da gratidão no semblante das crianças, num dia diáfano e ensolarado.

Dando vida a minha imaginação e ao meu devaneio, a imagem que mais evoca a experiência da totalidade no meu ser, do divino na minh'alma, é o de um formoso final de tarde rodeado de imponentes catedrais e monumentos históricos; e, ao fundo dessa paisagem, a riqueza de uma praia e de um imenso oceano que dá tônica desse panorama idílico e acolhedor. Essa vista sempre me remete ao self ou ao si-mesmo justamente porque me dá uma perspectiva não só de totalidade, mas também de completude, paz, harmonia e integração entre o cosmos (com suas cores às mais diversas) e os redutos onde abrigam as almas ávidas por imortalidade e comunhão; fraternidade e elevação.

E há, certamente, outras visões da natureza tão sublimes e situações tão emocionantes, que até consigo intuir por alguns instantes a força de Deus em minha existência soprando esperança, paz e êxtase. Uma noite de céu estrelado; uma fragrância rara que faz a alma pousar em paragens calmas; uma floresta impregnada de clareiras e alguns recintos com seus escuros contrastantes; um oceano cuja grandeza produz uma sensação de sublime; um amor arrebatador e verdadeiro que move duas almas; um horizonte que remete a uma sensação de plenitude e liberdade, tais são algumas manifestações onde uma verdadeira teofania já se fez muito presente em meu ser e em meu coração.

Mas também existe uma experiência com a divindade que transcende qualquer muralha; ela tem sido, portanto, capaz de me redimir e também a vida daqueles que amo em profundidade. A oração é, evidentemente, a força mais eficaz das almas sedentas pelo mistério; das almas que, num certo momento da vida, se encontram enfraquecidas pelos martírios do cotidiano e extenuadas pelas rotinas diárias. É como se o numinoso viesse pairar sobre o escuro do nosso ser, nos confortando das dores que são transformadas em sinceras lágrimas; e nos libertando das ciladas das ilusões e desesperanças.

Uma vida de retidão e preces incessantes consegue compreender muito bem o valor da gratidão que apascenta a sua alma; a importância dos louvores que liberta o seu ser das angústias; e a sublimidade da graça que consola o seu coração quando vem a errar os seus passos. Falando mais um pouco de mim (terminando essa breve exposição sobre a vivência com o numinoso), foi numa vida de oração que pude muito bem  extrair o ouro da minha singularidade e do meu ser mais autêntico; e conhecer os desígnios de Deus a guiar os meus sonhos, conduzindo a marcha da minha história rumo ao extra-ordinário e ao inefável.