Uma verdadeira onda de alienação e barbárie irrompe toda vez que as massas são arrastadas por ofertas de diversão barata e fútil; e, o que é pior ainda, por ideologias ao mesmo tempo sedutoras e criminosas, por ideologias que não fazem outra coisa senão idealizar o seu próprio paraíso e estabelecer o seu tribunal de justiça, bem como sinalizar e demarcar quem são os seus grandes bodes expiatórios.  

Por outro lado, não existe situação mais nociva a vida do que a certeza de milhares de pessoas agindo cegamente com a mesma convicção e impulsividade, mantendo atitudes de equidade própria, vingança e sob a garantia de que o que estão fazendo é a mais sábia a ser feita, sem mesmo se importarem de praticar ações truculentas, vexaminosas e de desprezo contra suas vítimas.

É nessas horas que em nome de sua religião ou divindade; ou mesmo, em nome de um partido ou grupo, certos homens podem ser capazes das piores atrocidades, como por exemplo, assassinar sem a menor crise moral e de consciência. Basta que uma força coletiva tome conta do imaginário de um povo para desencadear perseguições e crimes em larga escala como se fossem os "escolhidos" para fazerem uma grande ação na terra.

Os fenômenos do nacional-socialismo  e dos  comunismos despontando em diversos países do mundo (com seus líderes realizando apelos emocionais e discursos eloquentes de persuasão impulsionados pelo recursos tecnológicos e pela propaganda) são claros exemplos em que massificação e a ignorância da consciência para as questões mais profundas da vida se tornaram a ordem dominante ou o paradigma de uma nação, minimizando a importância da liberdade individual em prol de interesses estatais e ideológicos.

Além desses fenômenos, podemos mencionar certos eventos sociais nefastos a vida de uma sociedade coesa, tais como as touradas, as brigas de galo e as manifestações ritualisticas de seitas que envolvem muita carnificina e banhos de sangue. E o que dizer dos seguidores do líder religioso Jim Jones, motivados ao suicídio devido a concepções deturpadas da Bíblia sagrada, nos quais foram induzidos a tomarem medidas drásticas contrárias a comunhão que permeia a vida social entre pessoas saudáveis?

Jung, de maneira muito sábia, no seu livro Psicologia e religião, soube muito expressar os perigos de seguir o fluxo das massas e de sua inclinação a atos desumanidade e truculência, principalmente quando são sugestionadas por líderes sem qualquer senso de compaixão e solidariedade.  

Eis aqui um trecho fundamental para compreendermos esse fenômeno tão avassalador das multidões massificadas: "Quando as pessoas se reúnem em grande número, se transformam em turba desordenada, desencadeando os mecanismos profundos do homem coletivo: as feras e demônios que dormitam no fundo de cada indivíduo, convertendo-o em partícula da massa. No seio da massa, o homem desce inconscientemente a um nível moral e intelectual inferior, que sempre existe sob limiar da consciência, e o inconsciente estará sempre pronto para irromper, logo que ocorra a formação e a atração de uma massa" (O. C. Vol. XI/1).