É verdade que as pessoas que mais amamos são as mais podem nos ferir e nos fazer cair em desesperança. São aquelas pessoas que mais esperamos flores, as que mais podem nos jogar por terra e enfraquecer as nossas forças. Quando não esperamos a maldade de quem estimamos, corremos inevitavelmente um grande risco de vida, justamente porque não conseguimos descortinar a possibilidade de que tais seres humanos estão sujeitos ao erro, a mentira, ao autoengano, a confusão e a busca de seus próprios interesses em detrimento dos nossos. Pois assim como tais individuos, também estamos sujeitos a mesma depravação se não formos prudentes e misericordiosos com os nossos semelhantes. É nessas horas que penso que:  é um grande sinal de sabedoria manter a consciência desperta para o fato inexorável de que qualquer ser humano, seja ele quem for, pode nos decepcionar. O que mais podemos fazer nesse caso, então, é perdoar quem foi capaz de nos cegar...um perdão que não significa voltar a ser como era antes (como se pudéssemos restaurar um cristal rachado...), mas antes um perdão capaz de gerar a pacificação de nossas almas, um perdão que milagrosamente nos desvincula de um sofrimento contínuo e propiciador de um grande vazio existencial.