Eis que havia momentos em que a única maneira de me sentir livre era degustar um dia inteiro de silêncio, boas leituras e doses de meditação, tendo em vista, nas minhas lembranças, tudo aquilo que gosto de apreciar calmamente. Talvez esse era o paraíso para a minha alma descansar e conseguir manter a serenidade que dá o tom harmonioso do autocontrole e do equilíbrio. Alguns dizem que ninguém consegue ser feliz sozinho por muito tempo, o que não deixa de ter o seu proprio fundo de verdade. Mas, às vezes, estar sozinho para sonhar sem ter aquele medo de errar; como também fazer boas orações de agradecimento, contemplar uma manhã banhaba pelos raios de sol e envolta por um belo céu azul; degustar um bom vinho; e passear pelos confins da poesia contida nos livros, é tudo o que um homem precisa a fim de criar veredas de sentido e uma reserva energética que o ajuda a não se resignar diante das dificuldades da existência. Sou a prova viva de alguém que consegue resolver muitos dos meus dilemas reservando alguns instantes de cuidado interior através de práticas que visam o autoconhecimento e a paz de espírito, confirmando em mim mesmo que é possível ter momentos fecundos através do cultivo interior e do sentimento estético em meio ao belo. O estar sozinho no intento de se observar é uma maneira interessante de estarmos a par de nossa singularidade. E isso não significa uma forma de mazela existencial pelo fato de, justamente, haver produtividade no monólogo interior. Podemos, paradoxalmente, sentir a solidão ao lado de várias pessoas e, em contrapartida, nos sentirmos acolhidos naquele momento onde o ser encontra uma razão de ser descobrindo as suas nuances e a vocação de sua missão e propósito.