O medo do desconhecido é o que não nos faz dar a devida atenção a nossa sombra. Diante desse temor, fugimos de nossa escuridão, ou seja, de uma faceta de nossa alma que evitamos até mesmo pensar que ela exista. No entanto, sabemos que para progredirmos e nos transformarmos; alçarmos voos de superação e de transcendência, necessitamos em certas oportunidades descer nas noites escuras da existência a fim de desenvolvermos a consciência de quem somos em profundidade e encontrarmos o caminho  de nossa integridade. A coragem para descobrirmos quem somos é a chave para acessarmos (com a bagagem adquirida em meios aos sofrimentos) o numinoso que muitas vezes nos impressiona com a carga de seu despertar, assim como o misterioso e o elevado, principalmente quando temos em nosso ser a força vital da fé para atravessarmos os vales e as montanhas, bem como os sóis escaldantes e as noites gélidas de nossa existência no mundo, cujo intento é a perseverança para o encontro com a fonte de esperança que reluz a nossa alma. Às vezes, somos como Jonas que, ao temer o desconhecido e ao fugir de sua missão, é em algum momento de sua vida lançado num caminho tortuoso e abismal que o levará a um destino extraordinário na cidade de Ninive: em  nome daquele que faz surgir a alvorada da misericórdia e da graça para todos os contritos. E em algum momento de nossa existência podemos fazer a experiência de Saulo em Damasco, tendo o encontro com aquele que simboliza a luz da salvação contra toda forma de alienação e engano. Esse chamado para fazermos um mergulho no oceano do inconsciente é um caminho que produz a metanoia, uma condição de transformação e renovação, cuja finalidade é a conquista da ampliação da consciência para os valores mais insuperáveis da vida e a liberdade espiritual para vivenciarmos o que há de mais sagrado na esfera da relacionalidade humana; para conhecermos, enfim, tudo o que há de mais imorredouro, imutável e imperecível no foro mais íntimo de nosso ser.