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Poesias, ensaios e reflexões de Alessandro
O segredo da existência humana reside não só em viver, mas também em saber para que se vive. F. D.
Textos

EM TODA PARTE

Quando alta noite as florestas,

Tenebrosas agonias

Traem nas vozes funestas,

Quando as torrentes bravejam,

Quando os coriscos rastejam

Na espuma dos escarcéus...

Então a passos incertos

Procuro os amplos desertos

Para escutar-te, meu Deus!

 

Quando na face dos mares

Espelha-se o rei dos astros,

Cobrindo de ardentes rastros

Os cerúleos alcançares;

E a luz domina os espaços

Partindo da névoa os laços,

Rasgando da sombra os véus...

Então resoluto, ufano,

Corro às praias do oceano

Para mirar-te, meu Deus!

 

Quando às bafagens do estio

Tremem os pomos dourados,

Sobre os galhos pendurados

Do pomar fresco e sombrio;

Quando à flor d’água os peixinhos

Saltitam, e os passarinhos

Se cruzam no azul dos céus,

Então procuro as savanas,

Me atiro entre as verdes canas

Para sentir-te, meu Deus!

Quando a tristeza desdobra

Seu manto escuro em minh’alma,

E vejo que nem a calma

Desfruto que aos outros sobra

E do passado no templo

Letra por letra contemplo

A nênia dos sonhos meus...

Então me afundo na essência

De minha própria existência

Para entender-te, meu Deus!

 

- Fagundes Varela, em "Cantos e Fantasias", 1865.

FAGUNDES VARELA
Enviado por Alessandro Nogueira em 01/07/2023
Alterado em 01/07/2023
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