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RESÍDUOS DE DOR E SOFRIMENTO
Uma história lúgubre e cheia de mortes
Marca para sempre
A cultura de nossa nação.
Resíduos de sofrimentos ainda se ouvem
Depois de muitos anos
Ao redor de pedras, trilhos e vegetações.
No pico elevado das ambições
Dos homens poderosos
Já não se inspira mais temores de castigo.
Mas são nos lugares baixos,
Nas descidas da morte,
Que os mistérios até hoje
Produz os seus clamores, murmúrios e aflições
Desde eras muito remotas.
Uma história marcada por medos e lágrimas
Em meio a tantos chicotes
E obrigações cruéis e desumanas...
A escravidão é inevitavelmente
A maior cicatriz de nossa nação
Defasada pelo engano e pela corrupção.
Atrás de túneis, os enigmas não cessam...
As vozes de dor e de sofrimento ainda reverberam
De forma assustadora e ininterrupta
Nos sinistros caminhos
Da velha estrada de Santos.
Quem pode compreender
Os estranhos resquícios de choros
Ou os sons desconcertantes
Ao redor dos trilhos desativados de trem,
Num lugar em que o passado
Produziu acentos tão macabros
E fatos tão estarrecedores ou escandalosos?
O passado e o presente se entrelaçam
Com as densas brumas de fim de tarde
Nessa vila perdida no tempo...
Aqui subjaz o pesadelo de uma era
Que ainda nos assombra
Com seus vestígios de escravidão.
É a nossa verdade crua e fria: a história viva
De uma época que ainda macula
Com o sangue das vítimas do progresso
As paisagens de nossa terra...
Outrora tão profundamente usurpada e empobrecida!
Hoje a nossa terra ainda reabre de suas entranhas
Os vestígios do terror e da morte,
Os resíduos do sofrimento que não pode se calar,
Trazendo na sua atmosfera o sobrenatural
Nas inúmeras veredas
Em que cada vida se perdeu;
E nos pedaços de chão
Trabalhados de forma atroz
Com a dor dos seres
Que uma vez viveram
Entre tantos castigos, ameaças e fardos pesados.