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Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo.
(Ap 3: 20)
1-
A ascensão provisória do abominável da desolação buscando inutilmente estabelecer o seu domínio iníquo sobre o mundo (Mt 24:25); a multiplicação da iniquidade humana semelhante aos dias de Noé e as cidades de Sodoma e Gomorra (Mt 24: 37); e a sedução promovida pela prostituta inebriada pelo sangue dos santos e mártires (Ap 17: 6), são eventos que precederão a parúsia, ou seja, a chegada do reino da justiça divina em toda sua plenitude, formosura e glória.
O profeta não só vê o filho do homem, cujas vestes eram cumpridas, a voz como de muitas águas, os pés semelhantes ao bronze polido e os cabelos alvos como a lã (Ap 1:14-15); mas também os que foram mortos por professarem a palavra do Altíssimo (Ap 6: 9) após a abertura dos quatro primeiros selos cuja sequência de guerras, fome, enfermidades e morte, parece evidenciar um futuro nada alentador para os homens justos.
E como no próprio livro apocalíptico está escrito, tais eventos serão finalmente superados pela presença do juízo divinal, pela vinda surpreendente do Leão da tribo de Judá, na qual purificará para sempre o universo de toda imundície de pecado, fundando uma cidade adornada de toda sorte de pedras preciosas (Ap 21:19); e estabelecendo uma alvorada eterna, cuja luz inextinguível será de completa equidade, paz e benignidade (Ap 22:5).
Outros sinais também serão prelúdios da vinda majestosa do messias, como por exemplo, os abalos do edifício cósmico que já não mais oferecerá qualquer segurança aos habitantes da terra, especialmente aos perdidos e aos homens iníquos, ou melhor, aos adoradores da besta (Mt 24:29); a morte de uma terça parte dos seres vivos e dos ecossistemas, anunciando o colapso da economia do sistema mundial (Ap 8:7-8); e, por fim, os tormentos despejados pelos quatros cantos do mundo, as taças da ira de Deus (Ap 16:1), capazes de obscurecerem toda a terra e fazerem com que até mesmo os homens mais influentes busquem inutilmente novos refúgios em lugares subterrâneos, a fim de se protegerem da ira do Todo-poderoso (Am 9:2).
Tais etapas certamente precederão o estabelecimento de uma nova ordem que nunca poderá ser a ordem caótica desse sistema desumano (do deus deste século, como dizia Paulo). Sim, a ordem do reino eterno que felizmente será revestido do resplendor da verdade e amor, sem qualquer necessidade de outra luz para alumiar a cidade santificada. Eis em breves palavras a Jerusalém enquanto morada dos remidos do cordeiro.
2-
Como foi possível notar, o apocalipse é muito mais do que um livro da bíblia que revela um futuro tenebroso cujos acontecimentos são carregados de destruição, pecado, maldade e morte. O sentido desse livro, portanto, vai muito além do que somente mostrar uma era de completa alienação, caos e sofrimento, o que também não deixa de estar presente em vários trechos como forma de nos alertar para o que está por vir, para o que há de acontecer no mundo.
O livro nos diz que aquele que tem ouvidos (à presença do ser eterno), que ouça atenta e de forma cuidadosa o que o Espírito diz às igrejas. Leloup, no seu livro sobre o Apocalipse, nos dá uma excelente chave de compreensão das visões que João irá receber em meio ao exílio na ilha de Patmos. O autor diz: "Esta elevação não é um movimento físico, mas um alargamento da alma, uma entrada no mundo do espírito, simbolizado aqui pela palavra céu (ourano). As visões significantes que João vai receber, não são recebidas em um estado de consciência ordinária, que poderíamos chamar de 'terrena', mas em um estado de consciência, um clima de conhecimento que é 'celeste'. (...) Trata-se, sem nenhuma dúvida, dos céus das imagens que dão testemunho deste céu mais elevado de onde vêm essas informações; as imagens, mais do que os conceitos, convém à linguagem das relações, suas presenças transmitem àqueles que a recebem uma energia que engendra mais profetas do que filósofos. No entanto, quer se trate de imagens ou ideias, é sempre o sentido que tenta se comunicar a nós através delas."
No conteúdo do livro do Apocalipse veiculado pelo vidente em Patmos, percebemos diversos símbolos, sejam eles os que expressam pureza e os que expressam perversidade, como por exemplo, a babilônia, a prostituta e as bestas do mar e da terra; e também, por outro lado, a nova Jerusalém, a mulher que foge do dragão, o cordeiro e a igreja: a noiva preparada para o seu esposo. De forma um tanto misteriosa, há alguns números que se repetem, como o número 7 (sete selos, sete trombetas, sete taças e sete igrejas); e o número doze (as doze fundações e o 144 mil: que é, como o números já sugere, a multiplicação de 12 por ele mesmo).
Jean-Yves Leloup, no mesmo livro citado ''O apocalipse de João'' vai dizer justamente que o objetivo do apocalipse não é alimentar nossos temores e pavores; é, na verdade, trazer uma luz de esperança, uma lucidez não desesperada. O autor vai dizer: ''Esta não é a função de um apocalipse e particularmente do apocalipse de João. Seu papel não é o de alimentar nossas fobias, sequer de despertar um medo e uma angustia que poderia mostrar-se salutar diante da situação em si; é, antes, a revelação de uma saída, o exercício de uma lucidez não desesperada''.
Ora, a mensagem profunda do livro da Revelação, como o próprio nome já diz (que é o principal significado ou sinônimo da palavra grega Apocalipse) transcende o céu nublado de nossos medos e incertezas quanto a um porvir que aparenta despontar cheio de dificuldades e tribulações, pois levanta o véu dos enigmas que cobre o futuro com o objetivo de anunciar algo de natureza extraordinária e miraculosa.
Na realidade, a mensagem escatológica desse livro busca descortinar, mostrar, desvelar, desocutar completamente tudo o que está encoberto sob os disfarces de uma realidade impregnada de letargia e de desolação. Busca revelar fenômenos que um dia serão plenamente trazidos à tona, eventos terríveis e também eventos que trarão liberdade aos cativos da opressão dos perversos, propiciando inspiração e entendimento àqueles que guardam até o fim de suas vidas as palavras de tais profecias no coração, profecias essas que anunciam a parusia, ou seja, a vinda gloriosa da verdadeira e inextinguível luz da verdade revelada pelo filho de Deus que, apesar de já ser preparada na espiritualidade dos homens, se perpetuará sobre toda a terra e o cosmos.
Ainda a respeito do significado da palavra apocalipse, o autor do Livro ''Arquétipo do apocalipse'', Edward F. Edinger, vai dizer o seguinte: ''O outro termo deste título é apocalipse. Apocalypsis é apenas a palavra grega que foi utilizada para nomear o livro do apocalipse, que também é simplesmente chamado de 'revelação'. Mas, especificamente, refere-se ao 'desvelar daquilo que estava ocultado'. O raiz é o verbo kalypto, que significa 'cobrir ou esconder'; o prefixo é a preposição, apo, que significa 'longe ou a partir de'. Portanto, apokalypsis significa 'tirar fora o que cobre' daquilo que era secreto ou encoberto - revelando o que antes era invisível''.
A literatura apocalíptica do novo testamento tem o intento de desvelar acontecimentos gloriosos e magníficos ao fim de uma era escura e esvaziada da luz do amor, como a já mencionada segunda vinda de Jesus Cristo, a redenção dos seus servos que permaneceram até a morte em fidelidade implacável e, antes de mais nada, a queda e a derrota do império da iniquidade com todos os seus falsos prazeres, ilusões e vãs garantias. E como já dizia Paulo na 1ª carta aos coríntios (15:55) a respeito da dissolução do império da morte sobre a vida: ''A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão''.
3-
Nesse livro escrito pelo apóstolo exilado na ilha de grega de Patmos mediante o decreto do imperador Domiciniano; nesse livro profundamente inspirado por Deus a João, um homem simples e fiel que viveu em meio a uma angústia aparentemente intransponível, existem belas promessas, suficientes para frutificar na vida de todos os homens riquezas perenes que não podem ser comercializadas nesse mundo, além de esperança e consolo diante das ameaças simbolizadas pelos entes de oposição e destruição, como o dragão, as duas bestas, a babilônia, a meretriz, o anjo do abismo (apolion ou abadon), os seguidores da besta e as inúmeras atrocidades e mazelas desencadeadas sobre a terra.
Em prol dos santos que não se submeteram as ilusões de um sistema desumano, em prol daqueles que mantiveram de forma corajosa a fé em Deus até o fim de suas existências, existe uma estrutura de esplendor organizada para lhes dar abrigo e descanso conhecida como a nova Jerusalém, que é o arquétipo de uma cidade onde o amor, a equidade, a harmonia e a serenidade reinam soberana e eternamente. O próprio mestre, o filho unigênito de Deus, já dizia: ''Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. (João 14:1-3)''.
Nesse tesouro em forma de manuscrito chamado Apocalipse ou Revelação das coisas que em breve hão de acontecer, está escrito acerca da derrota inevitável do pecado, da morte, do dragão, da besta e de todos os seus agentes mediante a vinda triunfal do mais valente. Tais agentes da desolação e da destruição serão lançados no lago de fogo e enxofre, a fim de que sejam finalmente despojado de sua arrogância e orgulho (Ap 20: 14).
O Leão da tribo de Judá é, sem dúvidas, uma verdadeira mensagem de conforto que diz que os remidos irão, junto do Criador, desfrutar como sacerdotes das alegrias procedentes de um novo céu e de uma nova terra, vivendo num mundo novo adornado de paz, glória e beleza (um sonho realizado que nenhuma utopia nos moldes de More, Marx, Campanella, Platão e Rousseau pode proporcionar tão perfeitamente aos homens, por mais bem intencionada que seja!).
A respeito da luz brilhante que descrita no Último livro da bíblia, Edward F. Edinger, através de uma perspectiva da psicologia analítica ou junguiana do inconsciente coletivo, nos proporciona no seu livro ''Arquétipo do apocalipse'' uma belíssima análise que pode ser imprescindível para nossa compreensão. Ele vai dizer: ''Outra característica da experiência de João com o numinoso é a 'luz brilhante'. Tudo é branco, chegando até o semblante que brilhava com toda a força do sol- com a muito, muito brilhante luz. Considerando isso, o que temos aqui é uma imagem do 'sol' ou do sol como o si-mesmo. Isso traz à tona uma pergunta: como uma imagem pode representar o si-mesmo, a totalidade, enquanto contempla apenas um lado de um par de opostos. Pois, neste caso, os atributos solares são muito enfatizados enquanto o lado lunar, obscuro, não aparece. Concedo-lhes que mais à frente no livro do Apocalipse, encontramos muita escuridão, mas esta imagem em si se encontra muito unilateral. O filho do Homem, nos contam, é o 'primeiro e o último', aludindo ao fato de que possui dimensões cósmicas (Ap 1, 17).''
4-
Nada mais importante para todos os que buscam uma resposta para suas vidas do que saberem que a história não caminha sem sentido e direção, pois há haverá um novo tempo que será edificado pela vinda de nosso salvador para estabelecer o seu glorioso reinado.
Nada é mais imprescindível para aqueles que só enxergam mistério, incertezas, morte e obscuridade do que descobrirem com a leitura do último livro da bíblia, o apocalipse, os acontecimentos que estão para além do véu de nossa vida ordinária, acontecimentos que revelam e demonstram a bravura de nosso redentor simbolizado pelo Leão de Judá, bem como daqueles que ganharam o privilégio de uma nova vida mediante a perseverança de sua fidelidade e devoção.
Nada mais magnífico do que poder contemplar a glória do único que pode abrir os selos dos acontecimentos; que também é o único que nos mostra o caminho reto da sabedoria, da libertação e da luz para todos os cansados, oprimidos e mansos de coração.
Enfim, nada pode mais nos ajudar a discernir do que ver aquilo que jazia oculto e velado para o nosso entendimento e que agora, mediante a fé em nosso Salvador, somos ensinados a ter esperança num porvir repleto pelo esplendor de sua inaudita chegada, cujo fulgor é capaz de ofuscar as densas trevas de toda a maldade existente.
5-
Mais do que o triunfo do bem arquetípico sobre o mal escatológico, uma das grandes finalidades do livro do apocalipse ou da revelação é justamente a de nos mostrar que um dia a inocência e o bem integrarão a realidade na cidade Santa com a pura presença do ser Eterno; que a luz radiante da verdade glorificará toda a estrutura da nova cidade, uma cidade que será como um novo Éden: a própria exteriorização do que cada um será em toda sua incorruptibilidade (sem mais as ameaças trevas de todo engano); que a vida não conhecerá mais a morte; e que, definitivamente, a paz irá inundar os confins da terra, enchendo-a de sabedoria, e extinguindo toda forma de guerra que existe no seio na humanidade.
Sabemos também que, antes que o reinado messianico aconteça, haveria um tempo de tribulação. Esse período, conhecido como a grande tribulação, será por curto tempo, ou seja, suficiente para que o joio do trigo sejam separados. Certamente haverá de um lado os selados pelo cordeiro, composto por uma multidão de seres humanos que perseveraram no amor a Deus; e por outro lado, os selados pela besta, nos quais irão adorá-la como se fosse uma divindade. Enfim, os verdadeiros adoradores do Pai da eternidade e os adoradores do abominável da desolação no comando de seu sistema corrupto e desumano. Sabemos, além disso, que inúmeros eventos serão desencadeados em nosso planeta sob a permissão daquele que detém o controle do tempo, da história e dos acontecimentos, pois nada pode ficar impune; e o sol da justiça divinal certamente não falhará durante o toque das trombetas (onde uma terça parte de cada componente da terra será destruído) e o despejamento das taças: o coroamento final do seu infalível juízo.
Mas o maior triunfo para todos os que têm esperança na vida eterna é que a igreja, na qual viverá momentos de grande sofrimento tal como é relatado no livro de apocalipse, um dia encontrará com o seu noivo, vivendo com a certeza íntima no seu coração de que nunca mais haverá choro, tristeza, fomes, dores e angústias na estrutura de um reino de seres bem-aventurados permanentemente exultantes na confraternização nupcial das bodas do cordeiro (Ap 21:4).
A igreja escolhida pelo Altíssimo desde a fundação do mundo, essa formosa menina dos olhos de nosso Deus todo-poderoso, será composta por homens santos procedentes de todos os tempos, lugares, etnias, tribos, povos e nações, homens esses que farão parte de uma nova humanidade sob o reinado eterno de Yeshua. Ela é, de fato, o símbolo de todos os remidos pela misericórdia infinita do mestre dos mestres e rei dos reis, Jesus Cristo, o qual é o único, segundo as sagradas escrituras, que pode se sacrificar de forma completa e integral, a fim de dar a possibilidade de libertação e de redenção a todos os seres humano que batem na porta da graça do amor dvinal (Ap 3:20).