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Poesias, ensaios e reflexões de Alessandro
O segredo da existência humana reside não só em viver, mas também em saber para que se vive. F. D.
Textos

CREPÚSCULO

Ainda há em mim uma vida que, 

No seu clamor por verdade,

Não deixa de sonhar e de lutar,

Não deixar compor e de celebrar. 

 

Ainda existe em mim um coração

Que irradia inspiração

Enquanto olho para esse crepúsculo

Com uma delicada sabedoria de vida

Que vem despontando

Timidamente com o passar do tempo.

 

Das lágrimas pouco eu posso dizer,

A não ser a lembrança

De cada brilho que um dia prateou

As minhas pálpebras.

De cada dor que já não pode ferir o coração.

 

Mas de tempos em tempos

O fulgor da lírica da fina flor da poesia

Alumia a minh'alma,

Criando novos percursos no meu ser

Como quem não deixa passar

A beleza do instante mais arrebatador

Para povoar nos recônditos da alma.

 

Há em mim, no entanto, um choro calado,

Um choro de emoção em cada poesia escrita

Para lavar o ser de êxtase e sensibilidade.

Mas há também uma alegria,

Uma singela alegria,

Em cada verso colhido

No curso de minha vida.

 

A noite não tarda a chegar...

As esperanças da juventude

Ganham um tom mais nostálgico e saudoso;

E ao mesmo tempo um arroubo

De superabundante fé na eternidade,

Mesmo sabendo da efemeridade da vida.

 

Em cada consciência adquirida

Dou um passo a mais de liberdade...

Uma ilusão a menos a cada dia

Para propiciar uma lucidez implacável.

A poesia ainda grita,

Num despertar impávido

Do sono mortal da alienação.

 

Ainda há uma vida que canta,

Uma vida sensível a voz de Deus.

Existe ainda a poesia que toca as cordas da alma,

Reacendendo o prazer de viver

Mesmo nos tempos mais invernais

Da existência.

 

No crepúsculo da vida,

Como num céu misterioso de fim de tarde,

Vivo sem pressa num caminhar

Mais vagaroso e prudente.

 

Mas nada é em vão:

Todo esse tempo que se escoa

Produz profundidades

Tão misteriosas como o mar na sua profusão.

 

Assim são os anos vividos:

A oportunidade para as experiências

Mais inexoráveis.

E como um muro já prestes a ruir,

Termino de quebrar os últimos tijolos

Que me ilhava numa fantasmagoria de ilusões

E recrio, por outro lado, a vida sem letargias 

A cada renovado despertar.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 01/08/2023
Alterado em 16/08/2023
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