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Ainda há em mim uma vida que,
No seu clamor por verdade,
Não deixa de sonhar e de lutar,
Não deixar compor e de celebrar.
Ainda existe em mim um coração
Que irradia inspiração
Enquanto olho para esse crepúsculo
Com uma delicada sabedoria de vida
Que vem despontando
Timidamente com o passar do tempo.
Das lágrimas pouco eu posso dizer,
A não ser a lembrança
De cada brilho que um dia prateou
As minhas pálpebras.
De cada dor que já não pode ferir o coração.
Mas de tempos em tempos
O fulgor da lírica da fina flor da poesia
Alumia a minh'alma,
Criando novos percursos no meu ser
Como quem não deixa passar
A beleza do instante mais arrebatador
Para povoar nos recônditos da alma.
Há em mim, no entanto, um choro calado,
Um choro de emoção em cada poesia escrita
Para lavar o ser de êxtase e sensibilidade.
Mas há também uma alegria,
Uma singela alegria,
Em cada verso colhido
No curso de minha vida.
A noite não tarda a chegar...
As esperanças da juventude
Ganham um tom mais nostálgico e saudoso;
E ao mesmo tempo um arroubo
De superabundante fé na eternidade,
Mesmo sabendo da efemeridade da vida.
Em cada consciência adquirida
Dou um passo a mais de liberdade...
Uma ilusão a menos a cada dia
Para propiciar uma lucidez implacável.
A poesia ainda grita,
Num despertar impávido
Do sono mortal da alienação.
Ainda há uma vida que canta,
Uma vida sensível a voz de Deus.
Existe ainda a poesia que toca as cordas da alma,
Reacendendo o prazer de viver
Mesmo nos tempos mais invernais
Da existência.
No crepúsculo da vida,
Como num céu misterioso de fim de tarde,
Vivo sem pressa num caminhar
Mais vagaroso e prudente.
Mas nada é em vão:
Todo esse tempo que se escoa
Produz profundidades
Tão misteriosas como o mar na sua profusão.
Assim são os anos vividos:
A oportunidade para as experiências
Mais inexoráveis.
E como um muro já prestes a ruir,
Termino de quebrar os últimos tijolos
Que me ilhava numa fantasmagoria de ilusões
E recrio, por outro lado, a vida sem letargias
A cada renovado despertar.