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De repente, uma música celestial rompe o silêncio da minha casa com sua fragrância rítmica, gerando uma atmosfera de silêncio no meu ser e o prazer de uma harmoniosa epifania. Não contenho a emoção que abre o gosto da transcendência, da fé, do perdão, da esperança e de uma certa alegria que dá a cor do sentido da vida. É claro que não é a todo momento que desfrutamos desse êxtase. Nada que experenciamos se assemelha ao encontro do homem com Deus em sua alma. Mas como vivenciarmos essa experiência diariamente, esse arrebatamento dos sentidos integrados numa espiritualidade estranha a ordem dessa vida terrena? Será que continuaremos vivos depois de uma profunda plenitude? Será que ainda poderemos sentir familiarizados com as coisas desse mundo após alcançarmos os cumes do êxtase espiritual e religioso no melhor sentido de religare? Será que a guerra que travamos contra tudo e contra todos terá o seu significado depois de provarmos a quintaessencia do amor divino? Se através de uma canção quase nada volta a ser como era antes, o que dirá de um encontro verdadeiro e sublime! Assim como Moisés na sarça ardente, assim como Paulo ascendendo ao terceiro céu, a vida ganha uma outra extensão: já não mais influenciada pelas limitações desse tempo-espaço, mas inspirada no sonho da redenção não criada por mãos humanas. Esse renovo que transmuta até nossa essência vem a ser a própria abertura para o infinito: o incomensurável no coração de um ser entregue ao numinoso, ao sobrenatural, ao invisível, a eternidade assombrosamente intuida.