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Poesias, ensaios e reflexões de Alessandro
O segredo da existência humana reside não só em viver, mas também em saber para que se vive. F. D.
Textos

DISTOPIA

Nas saídas e entradas dos trens,

Nas ruas das grandes cidades

E até nos cantos mais turvos

Das regiões industrializadas,

Subjaz a loucura da sociedade contemporânea:

Uma cosmogonia artificial (Ordo ab chao),

Mas que para cada cidadão ou os seus descontentes

É sem qualquer ordem e sentido.

 

Eis o caos profundo de todos os dias,

A banalidade exata e evidente

Das grandes cidades convulsionadas

Pelo desespero de um lugar ao sol.

 

Milhares de anseios e sonhos

Sufocados pela pressa

E pelo anonimato de uma massa amorfa

Na impessoalidade que a todos nivela.

 

Um mundo poluído

Por informações que desinformam

E por glamoures que sujam a inocência

Em dezenas de cartazes, propagandas e outdoors

Que vendem a ilusão

Como essências de ideias eternas.

 

Uma civilização em estado de calamidade

E de um topor para o discernimento

Do que se entende

Por justiça social

Diante de tantas mazelas e inconsistências.

 

Tudo vira um motivo para a euforia:

Desde os shows inebriantes de ídolos culturais,

Às partidas acirradas de jogos 

Onde todos vibram numa mesma emoção.

 

Enquanto isso, o silêncio dos desabrigados

Assume um tom ainda mais soturno.

É a vida urbana crua e nua

Numa sociedade que se degrada

Em face dos grandes flagelos da humanidade.

 

Veículos de motores possantes

Poluem em nome do progresso a nossa atmosfera,

Mas as suas imponências e potenciais

(De ir além de qualquer limite)

Anestesiam qualquer consciência

Sobre sustentabilidade

E sobre a paz que todos querem.

 

Produções estratosféricas

E inovações que se criam a cada segundo

Faz com que a obsolescência

Seja a norma da vida social,

Colocando prazos de validade

Em objetos outrora valiosos

E até mesmo em corpos humanos

Onde a alma tampouco é levada a sério.

 

Existem mercados lícitos

De toda sorte de bens materiais

Essenciais para manter a qualidade de vida.

Mas, nas sombras da impunidade,

Existe um mercado negro

Para vender a vida da dignidade humana:

Um bem inalienável

Que muitos querem transformar

Em objetos consumíveis e descartáveis.

 

Como já dizia o sábio:

Debaixo do sol tudo é vaidade!

O mundo gira na mesmice de sempre

E toda consciência social da injustiça

Que ainda se indigna

Quer ser silenciada

Para que a mesma vaidade se satisfaça 

Na morte tranquila de todos os dias.

 

O amanhecer já não se ergue tranquilo,

Pois o mundo urbano

Desperta a todo galope,

Ou seja, sem rédeas para conter

A fúria de uma multidão alvoroçada

E de olhares de indiferença a quaisquer seres

Que, como bons marginalizados,

Já deixaram a muito tempo de participar

De uma vida robotizada e artificial.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 13/09/2024
Alterado em 14/09/2024
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