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Nas saídas e entradas dos trens,
Nas ruas das grandes cidades
E até nos cantos mais turvos
Das regiões industrializadas,
Subjaz a loucura da sociedade contemporânea:
Uma cosmogonia artificial (Ordo ab chao),
Mas que para cada cidadão ou os seus descontentes
É sem qualquer ordem e sentido.
Eis o caos profundo de todos os dias,
A banalidade exata e evidente
Das grandes cidades convulsionadas
Pelo desespero de um lugar ao sol.
Milhares de anseios e sonhos
Sufocados pela pressa
E pelo anonimato de uma massa amorfa
Na impessoalidade que a todos nivela.
Um mundo poluído
Por informações que desinformam
E por glamoures que sujam a inocência
Em dezenas de cartazes, propagandas e outdoors
Que vendem a ilusão
Como essências de ideias eternas.
Uma civilização em estado de calamidade
E de um topor para o discernimento
Do que se entende
Por justiça social
Diante de tantas mazelas e inconsistências.
Tudo vira um motivo para a euforia:
Desde os shows inebriantes de ídolos culturais,
Às partidas acirradas de jogos
Onde todos vibram numa mesma emoção.
Enquanto isso, o silêncio dos desabrigados
Assume um tom ainda mais soturno.
É a vida urbana crua e nua
Numa sociedade que se degrada
Em face dos grandes flagelos da humanidade.
Veículos de motores possantes
Poluem em nome do progresso a nossa atmosfera,
Mas as suas imponências e potenciais
(De ir além de qualquer limite)
Anestesiam qualquer consciência
Sobre sustentabilidade
E sobre a paz que todos querem.
Produções estratosféricas
E inovações que se criam a cada segundo
Faz com que a obsolescência
Seja a norma da vida social,
Colocando prazos de validade
Em objetos outrora valiosos
E até mesmo em corpos humanos
Onde a alma tampouco é levada a sério.
Existem mercados lícitos
De toda sorte de bens materiais
Essenciais para manter a qualidade de vida.
Mas, nas sombras da impunidade,
Existe um mercado negro
Para vender a vida da dignidade humana:
Um bem inalienável
Que muitos querem transformar
Em objetos consumíveis e descartáveis.
Como já dizia o sábio:
Debaixo do sol tudo é vaidade!
O mundo gira na mesmice de sempre
E toda consciência social da injustiça
Que ainda se indigna
Quer ser silenciada
Para que a mesma vaidade se satisfaça
Na morte tranquila de todos os dias.
O amanhecer já não se ergue tranquilo,
Pois o mundo urbano
Desperta a todo galope,
Ou seja, sem rédeas para conter
A fúria de uma multidão alvoroçada
E de olhares de indiferença a quaisquer seres
Que, como bons marginalizados,
Já deixaram a muito tempo de participar
De uma vida robotizada e artificial.