O VIVIDO NA ALMA E NO CORAÇÃO

   Tudo o que não pode ser provado e, mais ainda, que é fonte inesgotável de entendimento, é sempre algo a ser vivido e experenciado na paixão de nossa quietude intima, dando espaço para a entrada de cena da fé oceânica, muitas vezes sem que a linguagem possa dizer completamente tudo o que se passa na realidade abissal do espírito. Em outras palavras, instâncias metafísicas, como imortalidade da alma, liberdade, Deus, espírito, fé, esperança, eternidade, são realidades vivenciadas no coração e, às vezes, requer unicamente o silêncio como forma de se obter uma escuta mais aguçada para o que há de mais inacessível e elevado.

     Uma revelação sussurra em nossa vida para dar excelentes experiências vividas, mas jamais será o acesso a um saber completo e acabado. Tudo o que obtemos do sobrenatural é um relance, mas jamais será o saber completo. É para isso que o mistério nos encanta, aterra e atordoa. Ele ainda é o que funda o fascínio da existência. O seu conteúdo, portanto, é infinito como a incomensurabilidade das águas profundas do mar ou as finas areias do deserto.

   Com o lirismo da devoção e uma confiança nas águas mais profundas do sobrenatural se chegam aos caminhos do transcendental sem que o império da razão sistematizante e especulativa mantenha sua tenacidade. As navegações por realidades profundas exige tentativas criativas no intento de alçar por esferas quase recônditas e inacessíveis. Exige, outrossim, tentativas de autoexame e o que é mais importante: uma busca sincera para adentrar por campos tão pouco acessíveis e abertos a qualquer leigo e sem disciplina.