SOBRE AS LÁGRIMAS QUE VERTEMOS

     Cada lágrima que vertemos, seja de dor e de tristeza, seja de alegria e de esperança, é a nossa alma que traz a verdade de nossa condição e às vezes de nossa condição-limite, reveladora de nossos cansaços, descobertas, compreensões e intuições em meio a um mundo cego para o despertar de sentimentos puros e genuínos. Toda mudança no foro da consciência e na totalidade do ser não vem antes sem que expressemos, ora para nós mesmos em silêncio, ora em oração ao Deus de nossas vidas, ora para os nossos entes queridos em desabafo, o arrependimento e a contrição que nos transforma por inteiro.

     As lágrimas de nossos olhos extenuados são a chuva que rega o nosso coração ressequido pela alienação dessa vida social que não é verdadeiramente a nossa no seu sentido singelo e límpido. Toda busca de santidade ganha seu fulgor na sinceridade das lágrimas vertidas, intensificadas através das emoções trazidas pelo lamento ou pelo choro de contrição que leva um ser a se contorcer com as transformações operadas em todos os aspectos de sua existência. Essa condição de cume ou ápice que atinge a vida de um ser humano não só é libertadora, mas também redentora por nos tirar da prisão invisível de comportamentos massificados.

     A iluminação de nossa escuridão, para utilizar uma expressão de Jung, precisa em muitos casos passar por sofrimentos e padecimentos e que será, em seguida, o caminho para o qual a esperança possa renascer mais forte e resplandecente como um amanhecer que nos brinda com o verde das paisagens e belos cartões-postais. As nossas lágrimas, que já nascem em nosso silêncio e introspecção, são o orvalho que prepara a terra de nossa vida: um caminho desobstruído para o nosso caminhar mais vibrante e livre.