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Poesias, ensaios e reflexões de  Alessandro

 

O segredo da existência humana reside não só em viver, mas também em saber para que se vive.   F. D.



Textos

A DECADÊNCIA CULTURAL DO MUNDO

     Muito do que se produz no mundo, seja um talento na música, seja um pregador, seja "um influencer" (pois, querendo ou não, estamos a falar sobre os efeitos da globalização), acaba por se transformar em consumo desenfreado das massas, onde o que mais conta hoje em dia são as maneiras exageradas, estereotipadas e apelativas que refletem no seu modo de falar, de se expressar e de se portar, ou seja, quase tudo o que se cria precisa gerar escândalo ou euforia sob um prazer anestesiante, induzindo um cenário caótico e ruidoso.

     Não podemos deixar de considerar que o número de seguidores; o alto índice de curtidas e aprovações; e a influência sem qualquer senso crítico que há nas redes sociais, é um bom sinal da crise cultural e do empobrecimento da linguagem em nossos tempos de relações inconsistentes e frágeis tal como bem intuiu Bauman na sua concepção de mundo líquido na pós contemporaneidade.

     Com isso, quase tudo tende a perder a sua qualidade com o objetivo de agradar o público sedento por diversão e entretenimento, em vez de manifestar conteúdos com aquela profundidade e riqueza filosófica tão bem elaborada por um ser consciente de sua missão de vida.

     Há espetáculos grandiosos com gastos públicos estratosféricos, no entanto o conteúdo muitas vezes é extremamente alienante, sem qualquer conscientização para o que existe de mais enriquecedor na esfera da cultura, ou seja, produções dotadas de beleza, senso crítico e espiritualidade autêntica para a consciência dos homens. Na verdade, o grotesco se tornou normativo de muitas manifestações artísticas de nossa época, uma decadência que leva os indivíduos a se perderem em comportamentos autodestrutivos e degradantes.

     E por falar nas músicas com suas melodias e letras rasas produzidas aqui no Brasil e, de certa forma, em boa parte do mundo, é reflexo não só da indústria, mas também da ignorância, da futilidade e da barbárie cultural impregnada no meio do povo, no qual aceita o consumismo ou a ostentação a qualquer custo e, principalmente, enquanto estilo de vida.

 Tudo se tornou tão banalizado, superficial e desprovido de senso de beleza e humanidade, que chegamos a não encontrar quase nada que possa nos inspirar com conteúdos edificantes a nossa vida. Claro que sempre existirão exceções!

   Esse empobrecimento quase generalizado nas várias esferas da sociedade está mormente presente no campo da arte, da música e da política, sem deixar de se manifestar no comportamento massificado dos indivíduos.

     É provável que a qualidade da arte tenha cada vez mais diminuído o seu valor intrínseco por se privilegiar o valor mercadológico das visualizações e "curtidas"; e, o que se torna ainda mais assustador, se degradou sobremaneira justamente porque deixou de falar das coisas mais belas, sagradas e sublimes da vida para dar ênfase nas coisas mais nauseantes e detestáveis como se fossem coisas apreciáveis ou, que é pior, louváveis para adornar o espírito.

     Até mesmo na esfera das coisas mais sacrossantas emergem de tempos em tempos situações que convidam ao espetáculo pura e simplesmente, quando na verdade deveria ser baseada na adoração, ou ainda, na fé pura e genuína.

     Por sua vez, os cientificismos que impulsionam muitas ciências de nosso tempo tendem a se elevar como se fossem as únicas formas de saberes válidos, de modo que o mundo passa ser governado por especialistas em vez de seres pensantes e livres para trazerem com autonomia ideias plausíveis para a humanidade.

     A pobreza na esfera do espírito governa a nossa era pós-contemporânea, permeada de relações frágeis e relativizações que pouco constroem. E, para piorar, a superficialidade de uma enxurrada de conteúdos contribui para dificultar o desenvolvimento de uma cultura e educação de qualidade. Essa situação produz seres passivos na sua sede consumista; enquanto isso, a atividade criativa da imaginação e do livre pensamento lamentavelmente se esvaziam de importância e de investimento para a sua mais plena efervescência.

     Boa parte de nossa produção artística, científica ou cultural (no melhor sentido da palavra grega aletheia) não almeja a produção da verdade para se viver, mas as conveniências para que se amplie e se encha cada vez mais o mercado consumidor e consumista. Por conta dessa avidez por agradar o público sem cultura sofisticada, qualquer produção ou conteúdo precisa ser bem simplificado e raso, favorecendo apenas o massagear do ego frágil de seres num mundo em franca decadência de humanidade e significado existencial.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 08/05/2025
Alterado em 08/05/2025
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