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![]() O NOSSO VALOR PESSOAL: UMA CRÍTICA AOS IMPERATIVOS DO DESEMPENHO E DA PRODUTIVIDADE O valor pessoal jamais se medirá em produtividade. É, simplesmente, o nosso ser mais simples e genuíno que mostra quem somos e o que somos no mundo em vivemos. Não para satisfazer o olhar inquiridor das pessoas, mas tão somente a nós mesmos que nos dá a inspiração necessária para a vida criativa do espírito e de uma coexistência autêntica que jamais nos medirá por conta de nossa posição social ou de nossa hierarquia. O nosso valor pessoal também não é o resultado de nosso desempenho na máquina do sistema, como bem salientou as reflexões de Byung-Chul Han, tampouco o número que ocupamos no ranking das listas de classificações tão típicas dos processos seletivos de todos os tipos. A propósito desse mesmo autor citado, na sua obra A sociedade do cansaço, o mesmo vai dizer de forma brilhante que: "A alma humana se consome quando se nega constantemente aquilo que precisa para viver"; e em outro trecho, a respeito da sociedade do desempenho que nos leva aos grandes sinais de burnout com seus claros sintomas de exaustão e esgotamento: "A sociedade do desempenho se revela como um novo campo de trabalho: cada um se autoexplora voluntariamente, acreditando que esta se realizando". Sabemos, no entanto, que o nosso valor pessoal transcende a esse desperdício de energia; é uma de nossas esperanças para não sucumbirmos a um esforço inflexivelmente sem sentido, tal como um Sísifo moderno que impõe a si mesmo a condenação, em vez de ser condenado pelos deuses como no mito grego, a saber, a rolar sem cessar as pedras montanha acima, numa labuta excessiva. Esse mito só evidencia o sem-sentido, o absurdo da produtividade a qualquer custo e sem interrupção. O nosso valor pessoal, repito, que quando constelado pela nossa espiritualidade mais veraz e autêntica, passa a fazer parte de nossa essência mais profunda e inalienável e, portanto, consciente de si mesma para que não sejamos engolidos pelos excessos de cobrança e imposições de nosso tempo, no qual nos mostra um mundo social extremamente mecanizado, como também esvaziado de solidariedade e afeições singelas. Logo, um mundo dissolvido nas inconsistências da impessoalidade que faz com que os seres humanos se tornem ainda mais brutais e insanos por conta de uma exigência predatória que com o tempo o próprio indivíduo se encarrega dessa cobrança e sobrecarga. Vivemos, lamentavelmente, num meio onde todos são tratados como uma engrenagem ou produtos descartáveis, dificultando as chances de libertação para as esferas mais humanas, criativas e dotadas de significado existencial. Portanto, fadados fatalmente a nunca se satisfazerem com as conquistas mais importantes de seu trabalho. Os riscos de fazermos, sem se revoltar e questionar, parte dessa engrenagem complexa é justamente não aceitarmos qualquer forma de vida contemplativa para nos adequar às agitações do dia a dia do trabalho, nos convencendo de que devemos ser perfeitos o tempo todo e, pior ainda, de que uma atividade aprazível de reflexão é tempo perdido e um desperdício, como se tudo pudesse se resumir ao fatalismo alienante do "time is money". Uma vida social sem alma e inspiração poética na própria atividade laboral certamente é responsável por todos os indícios de esgotamento, cansaço e despersonalização tal como já podemos muito bem perceber hoje em dia. É o preço que pagamos pela anulação de quem somos para servirmos docilmente aos ditames de um sistema que suprime a nossa verdadeira humanidade. Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 12/05/2025
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