MEMORIA NÃO SILENCIADA

As consequências da injustiça,

Os resultados do seu retrocesso a longo prazo,

São caminhos de dor que fazem questão

De serem reabertos 

Por uma lembrança que busca resgatar

O seu danoso legado.

Uma memória ancestral

Guarda ainda os cheiros, os ruídos e as visões

Das lembranças fantasmagóricas

Que se movimentam

Nos porões da almas dos seres.

Como as brávias ondas do mar,

Tudo o que vive

Segue um rítimo de fluxo e refluxo...

Nem tudo o que vai para não voltar 

Obedece a ordem de jamais ressurgir.

Às vezes, o que retorna

É propriamente o indesejável 

Com as suas novas dinâmicas e versões.

Sabemos que o que outrora fora ignorado

Não necessariamente é passível 

De desaparecer e se anular.

Pois as ondas que levam para as profundezas

São as mesmas que trazem para a costa

O que era tratado como meramente descartável.

Da superfície paasamos plenamente a enxergar

O que foi vomitado do mais recondito das trevas. 

As escaladas de violências gratuitas

São as máculas da história humana.

Eis o fomento das grandes divisões

E a corrupção de todo o frágil valor

Da dignidade humana.

As humilhações

Contra os marginalizados

Geraram ao longo dos anos os abismos sociais,

Fendas abissais que jamais poderão

Ser silenciados ou esquecidos!

Os ódios ancestrais

Só puderam trazer ao longo do tempo

Uma proliferação de revoltas que jamais apaziguam

O incêndio de uma ira incontida.

Anos de discriminação

E décadas nas inclemências

Das barbáries segregacionais, 

Só contribuiram para aprofundar os abismos,

Acirrar as disputas e revanchismos de sangue,

Enfim, fomentar as terríveis lutas armadas

Contra os que quiseram fazer desse mundo

Um vale de desolação, morte e miséria.